Читаем Onze minutos полностью

Ralf Hart parou de se torturar e voltou a concentrar-se no jogo que acabavam de criar juntos. A mulher à sua frente estava certa: não bastava o vinho, o fogo, o cigarro, a companhia; era preciso outro tipo de embriaguez, outro tipo de chama. A mulher estava com um vestido de alças, tinha deixado um seio à mostra, ele podia ver sua carne, mais para morena que branca. Desejou-a. Desejou-a muito. Maria notou a mudança nos olhos de Ralf. Saber-se desejada a excitava mais do que qualquer outra coisa. Nada tinha a ver com a receita convencional - quero fazer amor com você, quero casar, quero que você tenha um orgasmo, quero ter um filho, quero compromissos. Não, o desejo era uma sensação livre, solta no espaço, vibrando, enchendo a vida com a vontade de ter algo - e isso bastava, essa vontade empurrava tudo para a frente, desmoronava as montanhas, deixava úmido seu sexo. O desejo era a fonte de tudo - de sair de sua terra, de descobrir um novo mundo, aprender francês, superar seus preconceitos, sonhar com uma fazenda, amar sem pedir nada em troca, sentir-se mulher apenas por causa do olhar de um homem. Com uma lentidão calculada, abaixou a outra alça, e o vestido escorregou por seu corpo. Em seguida, desabotoou o sutiã. Ali ficou, com a parte superior do corpo completamente despida, imaginando se ele iria saltar sobre ela, tocá- la, fazer juras de amor - ou se era sensível o suficiente para sentir, no próprio desejo, o mesmo prazer do sexo. As coisas em volta dos dois começaram a mudar, os ruídos já não existiam mais, a lareira, os quadros, os livros foram desaparecendo, substituídos por uma espécie de transe, em que apenas 0 obscuro objeto do desejo existe, e nada mais tem importância. O homem não se mexeu. No início sentiu uma certa timidez em seus olhos, mas não durou muito. Ele a olhava, e no mundo de sua imaginação ele a acariciava com sua língua, faziam amor, suavam, abraçavam-se, misturavam ternura e violência, gritavam e gemiam juntos.


No mundo real, porém, nada diziam, nenhum dos dois se movia, e isso a deixava mais excitada ainda, porque também ela estava livre para pensar o que quisesse. Pedia que a tocasse com suavidade, abria as pernas, masturbava-se diante dele, dizia frases românticas e vulgares como se fossem a mesma coisa, tinha vários orgasmos, acordava os vizinhos, acordava o mundo inteiro com seus gritos. Ali estava seu homem, que lhe dava prazer e

alegria, com quem podia ser quem era, falar dos seus problemas sexuais, contar o quanto


gostaria de continuar junto com ele pelo resto da noite, da semana, da vida. O suor começou a pingar da testa de ambos. Era a lareira, um dizia mentalmente para o outro. Mas tanto o homem como a mulher naquela sala tinham chegado ao seu limite, usado toda a imaginação, vivido juntos uma eternidade de momentos bons. Precisavam parar. Mais um passo e aquela magia seria desfeita pela realidade. Com muita lentidão - porque o final é sempre mais difícil que o princípio, ela recolocou o sutiã e escondeu os seios. O universo voltou ao seu lugar, as coisas em volta tornaram a surgir, ela levantou o vestido que tombara até sua cintura, sorriu, e com suavidade tocou-lhe o rosto. Ele pegou a sua mão e apertou-a contra a face, sem saber até onde devia mantê- la ali, ou com que intensidade devia agarrá- la. Ela sentiu vontade de dizer que o amava. Mas isso estragaria tudo, podia assustá-lo ou - o que era pior - podia fazer com que respondesse que também a amava. Maria não queria isso: a liberdade do seu amor era não ter nada o que pedir ou esperar. - Quem é capaz de sentir sabe que é possível ter prazer antes mesmo de tocar outra pessoa. As palavras, os olhares, tudo isso contém o segredo da dança. Mas o trem chegou, cada um vai para o seu lado. Espero poder acompanhá-lo nesta viagem até... até onde? - De volta a Genève - respondeu Ralf.


- Quem observa, e descobre a pessoa com quem sempre sonhou, sabe que a energia sexual acontece antes do próprio sexo. O maior prazer não é o sexo, é a paixão com que ele é praticado. Quando esta paixão é intensa, o sexo vem para consumar a dança, mas ele nunca é o ponto principal.


- Você está falando de amor como uma professora. Maria resolveu falar, porque esta era a sua defesa, sua maneira de dizer tudo sem comprometer-se com nada:


- Quem está apaixonado está fazendo amor o tempo todo, mesmo quando não está fazendo. Quando os corpos se encontram, é apenas o transbordar da taça. Podem ficar juntos por horas, até dias. Podem começar a dança em um dia e acabar em outro, ou até mesmo não acabar, de tanto prazer. Nada a ver com onze minutos. - O quê?


- Eu te amo.


- Eu também te amo.


- Perdão. Não sei o que estou dizendo.


- Nem eu.


Levantou-se, deu-lhe um beijo e saiu. Ela mesma podia abrir a porta, já que a superstição brasileira dizia que o dono da casa só precisava fazê- lo na primeira vez que fosse embora.

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