– Há uma centena de bordéis nesta cidade onde, com uma moeda cortada de cobre, posso comprar a boceta que quiser – Bronn respondeu. – Mas, um dia, minha vida pode depender da atenção com que observei os seus palhaços – enquanto se levantava, perguntou: – Quem é o rapaz da capa azul quadriculada com os três olhos no escudo?
– Um pequeno cavaleiro qualquer. Chama a si próprio de Tallad. Por quê?
Bronn afastou uma madeixa dos olhos.
– É o melhor de todos. Mas, observe-o, ele cai num mesmo ritmo, dando em todas as vezes que ataca os mesmos golpes na mesma ordem – o homem sorriu. – Isso será a sua morte no dia em que me enfrentar.
– Ele está juramentado a Joffrey, não é provável que o enfrente.
Começaram a atravessar o pátio, com Bronn ajustando seus passos longos aos curtos de Tyrion. Nesses dias, o mercenário parecia quase respeitável. Seu cabelo escuro lavado e escovado, estava recém-barbeado e usava a placa de peito preta de um oficial da Patrulha da Cidade. Dos seus ombros pendia um manto do carmim Lannister com um padrão de mãos douradas, que Tyrion lhe oferecera quando o nomeou capitão da sua guarda pessoal.
– Quantos suplicantes temos hoje?
– Trinta e tantos – Bronn respondeu. – A maior parte com queixas ou querendo alguma coisa, como sempre. Seu animal de estimação voltou.
Tyrion gemeu.
– A Senhora Tanda?
– O pajem. Convida-o outra vez para jantar com ela. Deve haver uma peça de veado, diz ela, um par de gansos recheados com molho de amoras e…
– … a filha – Tyrion finalizou num tom azedo. Desde o instante em que tinha chegado à Fortaleza Vermelha, a Senhora Tanda o andava perseguindo, armada com um arsenal sem fim de tortas de lampreia, javalis selvagens e apetitosos guizados com creme. De alguma forma, tinha ficado com a ideia de que um fidalgo anão seria o consorte perfeito para sua filha Lollys, uma moça grande, mole e pouco inteligente que, segundo os rumores, ainda era donzela aos trinta e três anos. – Mande-lhe as minhas desculpas.
– Não gosta de ganso recheado? – Bronn deu um sorriso maldoso.
– Talvez você devesse comer o ganso e casar com a donzela. Ou, melhor ainda, mandar Shagga.
– É mais provável que Shagga coma a donzela e se case com o ganso. E, de qualquer forma, Lollys é mais pesada do que ele.
– Também há isso – admitiu Tyrion enquanto passavam pela sombra de uma passarela que ligava duas torres. – Quem mais me procura?
O mercenário ficou mais sério:
– Há um agiota vindo de Braavos, trazendo uns papéis e coisas do gênero, que pede para se encontrar com o rei a propósito do pagamento de um empréstimo qualquer.
– Como se Joff conseguisse contar até mais de vinte. Mande-o a Mindinho, ele encontrará uma maneira de se livrar do homem. O que mais?
– Um fidalgo vindo do Tridente, diz que os homens do seu pai queimaram sua fortaleza, estupraram sua mulher e mataram todos os camponeses.
– Creio que chamam isso de
– Camponeses novos. Percorreu todo o caminho a pé para cantar sua lealdade e pedir uma recompensa.
– Arranjarei tempo para ele amanhã – quer fosse realmente leal ou meramente desesperado, um senhor do rio obediente poderia ser útil. – Organize as coisas para que lhe seja dado um quarto confortável e uma refeição quente. Envie-lhe também um novo par de botas, das boas, uma delicadeza do Rei Joffrey – uma exibição de generosidade nunca é má.
Bronn fez um aceno rápido:
– Também há um grande bando de padeiros, açougueiros e vendedores de verduras clamando por serem ouvidos.
– Da última vez já lhes disse que não tenho nada para lhes dar.
Só um pequena quantidade de comida chegava a Porto Real, a maior parte dela destinada ao castelo e à guarnição. Os preços das verduras, tubérculos, farinha e frutas tinham subido assustadoramente, e Tyrion não queria pensar nos tipos de carne que deviam estar sendo despejados nas caldeiras dos refeitórios da Baixada das Pulgas. Peixe, ele esperava. Ainda tinham o rio e o mar… pelo menos até que Lorde Stannis zarpasse.
– Eles querem proteção. Ontem à noite um padeiro foi assado no seu próprio forno. O povo dizia que ele estava cobrando muito caro pelo pão.
– E estava?
– Ele não está em condições de negar.
– Não o comeram, certo?
– Que eu saiba, não.
– Da próxima vez comerão – Tyrion falou num tom sinistro. – Dou-lhes toda a proteção que posso dar. Os homens de manto dourado…
– Dizem que havia mantos dourados na multidão – Bronn completou. – Exigem falar com o rei em pessoa.
– Loucos.
Tyrion despacharia-os com desculpas; o sobrinho iria despachá-los com chicotes e lanças. Sentiu-se meio tentado a permitir isso… mas não, não se atrevia. Mais cedo ou mais tarde, algum inimigo marcharia sobre Porto Real, e a última coisa que queria era traidores solícitos dentro das muralhas da cidade.
– Diga-lhes que o Rei Joffrey partilha dos seus temores e fará tudo o que puder por eles.
– Eles querem pão, não promessas.