– Se lhes der pão hoje, amanhã terei o dobro batendo nos portões. Quem mais?
– Um irmão negro vindo da Muralha. O intendente diz que ele trouxe uma mão apodrecida num frasco.
Tyrion deu um sorriso triste.
– Surpreende-me que ninguém a tenha comido. Suponho que deva recebê-lo. Não será Yoren, por acaso?
– Não. Um cavaleiro qualquer. Thorne.
– Sor
Bronn deu uma gargalhada roncada e foi embora, enquanto Tyrion subia com dificuldade a escada em caracol. Enquanto coxeava através do pátio exterior, ouviu o matraquear da porta levadiça sendo içada. A irmã e um grande grupo de pessoas esperavam junto ao portão principal.
Montada no seu palafrém branco, a irmã elevava-se muito acima de todos, uma deusa vestida de verde.
– Irmão – ela chamou, sem calor na voz. A rainha não tinha ficado feliz com a forma como ele havia lidado com Janos Slynt.
– Vossa Graça – Tyrion fez uma polida reverência. – Tem um aspecto adorável nesta manhã – a coroa dela era de ouro, o manto, de arminho. A comitiva ocupava as suas montarias atrás dela: Sor Boros Blount da Guarda Real, usando uma armadura de escamas brancas e sua carranca preferida; Lorde Gyles Rosby, pior do que nunca da sua tosse asmática; Hallyne, o Piromante da Guilda dos Alquimistas; e o mais recente favorito da rainha, o primo Sor Lancel Lannister, escudeiro do seu falecido marido elevado à condição de cavaleiro por insistência da viúva. Vylarr e vinte guardas formavam a escolta. – Onde vai hoje, irmã? – Tyrion perguntou.
– Vou fazer uma ronda pelos portões, a fim de inspecionar as novas balistas e catapultas de fogo. Não gostaria de pensar que estamos todos tão indiferentes perante as defesas da cidade como você parece estar – Cersei fitou-o com aqueles seus límpidos olhos verdes, belos, mesmo no desprezo. – Fui informada de que Renly Baratheon se pôs em marcha de Jardim de Cima. Está percorrendo a estrada das rosas, à frente de toda a sua força.
– Varys deu-me a mesma notícia.
– Pode estar aqui pela lua cheia.
– Não no ritmo vagaroso atual – Tyrion lhe garantiu. – Banqueteia-se cada noite num castelo diferente e dá audiência em cada encruzilhada por que passa.
– E todos os dias, mais homens se reúnem em volta dos seus estandartes. Diz-se que sua tropa tem agora cem mil homens.
– Esse número parece bastante elevado.
– Tem atrás de si o poderio de Ponta Tempestade e Jardim de Cima, meu pequeno tolo – Cersei soou irritada. – Todos os vassalos dos Tyrell, exceto os Redwyne, e deve-me agradecimentos por isso. Enquanto eu mantiver comigo aquelas pestes daqueles seus gêmeos, Lorde Paxter ficará agachado na Árvore e achará que tem sorte de estar fora de tudo isto.
– Uma pena que tenha deixado o Cavaleiro das Flores escapulir entre seus belos dedos. Em todo caso, Renly tem outras preocupações além de nós. Nosso pai em Harrenhal, Robb Stark em Correrrio… se eu estivesse no lugar dele, agiria de forma muito semelhante, exibindo meu poder para que o reino visse, observando, esperando. Deixaria que meus rivais lutassem, enquanto esperava minha bela hora. Se o Stark nos derrotar, o sul cairá nas mãos de Renly como um presente dos deuses, e sem que ele perca um único homem. E, se as coisas acontecerem de outro modo, pode cair sobre nós enquanto estivermos enfraquecidos.
Cersei não estava apaziguada.
– Quero que obrigue nosso pai a trazer seu exército para Porto Real.
– Quando fui capaz de
Ela ignorou a pergunta.
– E quando planeja libertar Jaime? Ele vale cem de você.
Tyrion deu um sorriso torto.
– Não diga isso à Senhora Stark, peço-lhe. Não temos cem de mim para trocar.
– Nosso pai devia estar louco para tê-lo enviado. É pior do que inútil – a rainha sacudiu as rédeas e fez o palafrém dar meia-volta. Saiu pelo portão num trote rápido, fazendo esvoaçar o manto de arminho atrás de si. A comitiva apressou-se atrás dela.