– Ah, disseram? – Tyrion queria ouvir aquilo. – Continue.
– Até agora, os homens de Dorne têm se mantido à parte dessas guerras. Doran Martell convocou os vassalos, e nada mais. É bem conhecido seu ódio pela Casa Lannister, e a opinião geral é de que irá se juntar a Lorde Renly. Você quer dissuadi-lo.
– Tudo isso é óbvio – Tyrion concluiu.
– O único enigma é o que pode ter oferecido em troca da sua fidelidade. O príncipe é um homem sentimental e ainda chora pela irmã Elia e seu querido filho.
– Meu pai disse-me um dia que um senhor nunca deixa que o sentimento entre no caminho da ambição… E acontece que temos um lugar vago no pequeno conselho, agora que Lorde Janos vestiu o negro.
– Um lugar no conselho não é de se desprezar – Varys admitiu –, mas será o suficiente para fazer com que um homem orgulhoso esqueça o assassinato da irmã?
– Por que esquecer? – Tyrion sorriu. – Prometi entregar-lhe os assassinos da irmã, vivos ou mortos, como ele preferir.
Varys lançou-lhe um olhar astuto.
– Meus passarinhos dizem que a Princesa Elia gritou um… certo nome… quando vieram buscá-la.
– Um segredo é ainda segredo se todos o conhecem? – em Rochedo Casterly, era de conhecimento geral que Gregor Clegane tinha matado Elia e o filho. Dizia-se que tinha violado a princesa com o sangue e os miolos do filho ainda nas mãos.
–
– Meu pai seria o primeiro a dizer que cinquenta mil homens de Dorne valem o preço de um cão raivoso.
Varys afagou uma bochecha empoada.
– E se o Príncipe Doran exigir tanto o sangue do senhor que deu a ordem como o do cavaleiro que cometeu o ato…
– Robert Baratheon liderou a rebelião. No fim das contas, todas as ordens vieram dele.
– Robert não estava em Porto Real.
– Doran Martell também não.
– Muito bem. Sangue para o seu orgulho, um cargo para a ambição. Ouro e terras, isso nem é preciso dizer. Uma bela oferta… Mas o que é doce pode estar envenenado. Se eu fosse o príncipe, exigiria mais alguma coisa antes de pegar esse favo. Algum sinal de boa-fé, alguma salvaguarda segura contra a traição – Varys deu seu sorriso mais viscoso. – Qual deles lhe dará, pergunto eu?
Tyrion suspirou.
– Você sabe, não é mesmo?
– Já que põe as coisas nesses termos… Sim. Tommen. Seria difícil oferecer Myrcella tanto a Doran Martell como a Lysa Arryn.
– Lembre-me de nunca mais jogar de adivinhas com você. Você trapaceia.
– Príncipe Tommen é um bom garoto.
– Se arrancá-lo de Cersei e Joffrey enquanto ainda for novo, pode até se tornar um bom homem.
– E um bom rei?
– Joffrey é o rei.
– E Tommen, seu herdeiro, caso algo de mal caia sobre Sua Graça. Tommen, cuja natureza é tão doce, e notavelmente… tratável.
– Tem uma mente desconfiada, Varys.
– Tomarei isso como um elogio, senhor. Em todo caso, Príncipe Doran dificilmente ficará insensível à grande honra que lhe presta. Muito hábil, devo dizer… Não fosse por uma pequena falha.
O anão soltou uma gargalhada.
– Chamada Cersei?
– De que serve a política contra o amor de uma mãe pelo doce fruto do seu ventre? Talvez, pela glória da sua Casa e pela segurança do reino, a rainha possa ser persuadida a enviar para longe Tommen ou Myrcella. Mas ambos? Certamente não.
– O que Cersei não sabe nunca poderá me fazer mal.
– E se Sua Graça descobrir as suas intenções antes de seus planos amadurecerem?
– Ora... Então saberei que o homem que lhe contou é decerto meu inimigo – e quando Varys soltou um risinho, Tyrion pensou:
Sansa
Venha esta noite ao bosque sagrado, se quiser ir para casa.
As palavras na centésima leitura eram as mesmas que tinham sido na primeira, quando Sansa descobriu a folha de pergaminho dobrada debaixo do travesseiro. Não sabia como tinha ido parar lá ou quem a enviara. O bilhete não estava assinado nem selado, e a letra não lhe era familiar. Esmagou o pergaminho contra o peito e sussurrou as palavras para si própria.
– Venha esta noite ao bosque sagrado, se quiser ir para casa – segredou quase inaudivelmente.
O que aquilo poderia significar? Deveria levar a mensagem à rainha para provar que estava sendo boa? Nervosamente, esfregou a barriga. O machucado roxo que Sor Meryn lhe dera tinha se desvanecido até tomar um feio tom amarelo, mas ainda doía. Quando bateu, seu punho estava coberto por cota de malha. A culpa era dela. Tinha de aprender a esconder melhor os sentimentos, para não enfurecer Joffrey. Quando ouviu dizer que o Duende tinha enviado Lorde Slynt para a Muralha, distraiu-se e disse:
– Espero que os Outros o peguem.
O rei não ficou contente.
Sansa tinha rezado tanto. Poderia aquilo ser a resposta, por fim, um verdadeiro cavaleiro enviado para salvá-la? Talvez fosse um dos gêmeos Redwyne, ou o ousado Sor Balon Swann… ou até Beric Dondarrion, o jovem senhor que sua amiga Jeyne Poole amava, com seu cabelo ruivo-alourado e o manto negro borrifado de estrelas.