Читаем A Fúria dos Reis полностью

Uma coluna de espadachins de manto vermelho passou por ela correndo quando saiu para a noite. Esperou até estarem bem longe, antes de atravessar como uma flecha a ponte levadiça sem guarda. No pátio, homens afivelavam cintos de espadas e cingiam as selas dos seus cavalos. Vislumbrou Sor Preston perto dos estábulos com mais três homens da Guarda Real, com os mantos brancos brilhantes como a lua, enquanto ajudavam Joffrey a vestir a armadura. Ficou sem fôlego quando viu o rei. Felizmente, ele não a viu. Gritava pela espada e pela besta.

O ruído foi diminuindo enquanto se deslocava mais para o interior do castelo, sem se atrever a olhar para trás, com medo de que Joffrey pudesse estar observando… ou, pior, seguindo-a. A escada em espiral enrolava-se à sua frente, riscada por linhas de luz tremeluzente, vinda de janelas estreitas mais acima. Sansa arquejava quando chegou ao topo. Correu por uma colunata sombria e encostou-se com força na parede para recuperar o fôlego. Quando algo roçou em sua perna, quase saltou para fora da sua pele, mas era apenas um gato, um macho preto esfarrapado com uma orelha roída. A criatura bufou para ela e afastou-se com um salto.

Quando chegou ao bosque sagrado, o ruído tinha se reduzido a um tênue tinir de aço e gritos distantes. Sansa apertou-se mais no manto. O ar estava rico com os cheiros da terra e das folhas. Lady teria gostado deste lugar, pensou. Havia algo de selvagem num bosque sagrado; mesmo ali, no coração do castelo que se erguia no centro da cidade, podia-se sentir os deuses antigos observando com mil olhos invisíveis.

Sansa preferiu os deuses da mãe aos do pai. Adorava as estátuas, as imagens nos vitrais, a fragrância de incenso ardendo, os septões com suas togas e cristais, o mágico jogo de arco-íris nos altares incrustados de madrepérola, ônix e lápis-lazúli. Mas não podia negar que o bosque sagrado também possuía um certo poder. Especialmente à noite. Ajude-me, rezou, envie-me um amigo, um verdadeiro cavaleiro para ser meu campeão…

Deslocou-se de árvore em árvore, sentindo a aspereza da casca sob os dedos. Folhas rasparam no seu rosto. Teria vindo tarde demais? Ele não teria ido embora tão cedo, não é? Ou sequer teria vindo? Ousaria chamá-lo? O bosque estava tão silencioso e calmo…

– Temi que não viesse, menina.

Sansa rodopiou. Um homem saiu das sombras, corpulento, de pescoço grosso, trôpego. Usava uma toga cinza-escura com o capuz puxado para a frente, mas quando uma fina fatia de luar tocou seu rosto, ela o reconheceu de imediato, pela pele manchada e pela teia de veias rompidas por baixo dela.

– Sor Dontos – sussurrou, de coração despedaçado. – É o senhor?

– Sim, minha senhora – quando ele se aproximou, ela sentiu o fedor amargo do vinho no seu hálito. – Eu – o homem lhe estendeu uma mão.

Sansa encolheu-se.

Não! – ela enfiou a mão sob o manto, agarrando a faca escondida. – O que… o que quer de mim?

– Apenas ajudá-la – Dontos respondeu. – Tal como me ajudou.

– Está bêbado, não está?

– Só bebi uma taça de vinho, para ajudar a ganhar coragem. Se me apanharem agora, esfolarão minhas costas.

E o que farão a mim? Sansa deu por si pensando de novo em Lady. A loba podia farejar a falsidade,

podia, mas estava morta, seu pai matara-a por causa de Arya. Puxou a faca e segurou-a na sua frente com ambas as mãos.

– Vai me apunhalar? – Dontos perguntou.

– Vou. Diga-me quem o enviou.

– Ninguém, querida senhora. Juro, pela minha honra como cavaleiro.

– Cavaleiro? – Joffrey tinha decretado que ele já não seria cavaleiro, apenas um bobo, ainda mais baixo do que o Rapaz Lua. – Orei aos deuses por um cavaleiro que viesse me salvar – Sansa disse. – Orei e orei. Por que me enviariam um velho bobo bêbado?

– Eu mereço isso, se bem que… Eu sei que é estranho, mas… durante todos estes anos em que fui cavaleiro, fui na verdade um bobo, e agora que sou um bobo, acho… acho que posso encontrar em mim o que é preciso para voltar a ser um cavaleiro, querida senhora. E tudo por causa da senhora… da sua graça, da sua coragem. A senhora me salvou, não apenas de Joffrey, mas de mim mesmo – a voz tornou-se mais baixa. – Os cantores dizem que houve antigamente outro bobo que foi o maior cavaleiro de todos…

Florian – Sansa sussurrou, e um arrepio percorreu sua pele.

– Querida senhora, quero ser o seu Florian – disse Dontos humildemente, caindo de joelhos à sua frente.

Lentamente, Sansa abaixou a faca. Sentia a cabeça muito leve, como se estivesse flutuando. Confiar-me a este bêbado é uma loucura, mas se virar as costas para ele, será que a possibilidade voltará a surgir?

– Como… Como o faria? Levar-me para fora daqui?

Sor Dontos ergueu o rosto.

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