– Cavaleiros
Cão de Caça deu-lhe um empurrão, estranhamente gentil, e seguiu-a pela escada. Quando chegaram ao fundo, ele tinha caído num silêncio meditativo, como se tivesse se esquecido de que ela estava ali.
Quando chegaram à Fortaleza de Maegor, ela ficou alarmada por ver que era Sor Boros Blount quem agora patrulhava a ponte. Seu grande elmo branco virou-se rigidamente ao ouvir o som dos passos deles. Sansa vacilou perante seu olhar. Sor Boros era o pior dos homens da Guarda Real, um homem feio, com um gênio mau, todo ele carranca e papada.
– Aquele não é nada a temer, moça – Cão de Caça pôs uma mão pesada no ombro dela. – Se pintar listras num sapo, ele não se transforma em tigre.
Sor Boros ergueu a viseira.
– Sor, onde…
– Que se foda o seu
– O rei andava há um tempo à procura do seu cão.
– O cão estava bebendo. Era a sua noite de defendê-lo,
Sor Boros virou-se para Sansa.
– Por que motivo não está nos seus aposentos a esta hora, senhora?
– Fui ao bosque sagrado rezar pela segurança do rei – a mentira daquela vez soou melhor, quase verdadeira.
– Espera que ela durma, com todo este barulho? – Clegane perguntou. – O que houve?
– Idiotas ao portão – Sor Boros admitiu. – Algumas línguas soltas espalharam histórias a respeito dos preparativos para o banquete de casamento de Tyrek, e aqueles infelizes puseram na cabeça que também deviam ser banqueteados. Sua Graça liderou um ataque surpresa e os escorraçou.
– Rapaz corajoso – disse Clegane, com a boca se retorcendo.
– Por que deixa que as pessoas o chamem de cão? E não aceita que
– Gosto mais de cães do que de cavaleiros. O pai do meu pai era mestre dos canis no Rochedo. Num ano de outono, Lorde Tytos interpôs-se entre uma leoa e a sua presa. A leoa estava se cagando por ser o próprio símbolo dos Lannister. Rasgou o cavalo do meu senhor às dentadas e teria dado cabo também do senhor, mas meu avô chegou com os cães de caça. Três dos seus cães morreram ao afugentá-la. Meu avô perdeu uma perna, por isso o Lannister pagou-lhe com terras e uma casa-torre e tomou seu filho como escudeiro. Os três cães no nosso estandarte são os três que morreram, no amarelo da grama de outono. Um cão de caça morrerá por você, mas nunca mentirá a você. E olhará diretamente no seu rosto – agarrou-a pelo queixo, erguendo-o, com os dedos beliscando-a dolorosamente. – E isso é mais do que os passarinhos podem fazer, não é? Não cheguei a ouvir a minha canção.
– Eu… eu sei uma canção sobre Florian e Jonquil.
– Florian e Jonquil? Um idiota e a sua boceta. Poupe-me. Mas um dia vou conseguir uma canção de você, quer queira quer não.
– Cantarei de bom grado.
Sandor Clegane fungou.
– Coisinha linda, e tão má, mentirosa. Um cão consegue farejar uma mentira, você sabe. Olhe em volta e dê uma boa cheirada. Aqui são todos mentirosos… e todos eles são melhores do que você.
Arya
Quando subiu até o galho mais alto, Arya conseguiu ver chaminés espreitando por entre as árvores. Telhados de sapé aglomeravam-se ao longo das margens do lago e do pequeno riacho que nele desaguava, e um embarcadouro de madeira projetava-se pela água ao lado de um longo edifício baixo com telhado de ardósia.
Arrastou-se mais para a frente, até o galho começar a ceder sob seu peso. Não havia barcos amarrados ao embarcadouro, mas conseguia ver finos anéis de fumaça que se erguiam de algumas das chaminés e parte de uma carroça que se mostrava por detrás de um estábulo.
– Se pudessem, teriam queimado o lago – Gendry dissera, e Arya sabia que ele tinha razão. Na noite da fuga, as chamas da vila incendiada tinham brilhado tanto na água, que parecia que o lago