De algum modo, Osha e os malditos garotos escapavam dele. Não devia ter sido possível, não a pé, carregando um aleijado e uma criança pequena. A cada hora que passava, a probabilidade de a fuga ser bem-sucedida aumentava.
Mas, quando se juntaram ao grupo de Farlen, bastou um olhar no rosto do mestre dos canis para deixar em cacos todas as esperanças de Theon:
– Esses cães só prestam para uma luta com ursos – ele disse, zangado. – Bem que gostaria de ter um urso.
– Os cães não têm culpa – Farlen ajoelhou-se entre um mastim e a sua preciosa cadela vermelha, com uma mão pousada em cada um dos animais. – A água corrente não guarda cheiros, senhor.
– Os lobos tiveram de sair do córrego
– Com certeza. Para cima ou para baixo. Se continuarmos, encontraremos esse lugar, mas, para que lado?
– Nunca ouvi falar de nenhum lobo que subisse o leito de um córrego ao longo de milhas – Fedor interveio. – Um homem podia fazer isso. Se soubesse que vinham atrás dele, podia fazer isso. Mas um lobo?
Mas Theon não tinha tanta certeza. Aqueles animais não eram como os outros lobos.
A história foi a mesma quando se juntaram a Gariss, Murch e Aggar. O caçador recuara sobre seus passos até meio caminho de Winterfell sem encontrar nenhum sinal do lugar onde os Stark pudessem ter se separado dos lobos gigantes. Os cães de Farlen pareciam tão frustrados como seus donos, farejando desoladamente as árvores e as pedras, e mordendo-se irritadamente uns aos outros.
Theon não se atrevia a admitir a derrota.
– Voltaremos ao córrego. Vamos procurar novamente. Dessa vez iremos tão longe quanto for preciso.
– Não conseguiremos encontrá-los – o garoto Frey disse de repente. – Pelo menos enquanto os papa-rãs estiverem com eles. Os homens de lama são traiçoeiros, não lutam como gente decente, escondem-se e usam flechas envenenadas. Nunca se deixam ver, mas eles nos veem. Aqueles que entram nos pântanos em busca deles se perdem, e nunca mais saem. Suas casas se
Farlen riu para mostrar o que pensava daquela ideia.
– Meus cães cheirariam qualquer coisa que estivesse naqueles arbustos. Cairiam em cima deles antes de você conseguir soltar um peido, rapaz.
– Os papa-rãs não cheiram como homens – Frey insistiu. – Têm um fedor pantanoso, como rãs, árvores e água podre. Cresce musgo debaixo dos braços deles, em vez de pelos, e sobrevivem sem nada para comer além de lama, e respiram a água do pântano.
Theon já se preparava para lhe dizer o que devia fazer com a fábula da ama de leite quando o Meistre Luwin interveio.
– As histórias dizem que os cranogmanos se tornaram próximos dos filhos da floresta nos dias em que os videntes verdes tentaram fazer o martelo das águas cair sobre o Gargalo. Pode ser que possuam conhecimentos secretos.
De repente a floresta pareceu ficar bem mais escura do que estava um momento antes, como se uma nuvem bloqueasse o sol. Uma coisa era ter um garoto bobo cuspindo bobeiras, mas esperava-se que os meistres fossem sábios.
– Os únicos filhos de alguma coisa que me preocupam são Bran e Rickon – Theon respondeu, e ordenou: – De volta ao córrego. Já.
Por um momento não lhe pareceu que fossem obedecer, mas, por fim, o velho hábito prevaleceu. Seguiram-no carrancudos, mas seguiram. O garoto Frey estava muito irrequieto como os coelhos que tinha espantado de manhã. Theon colocou homens em ambas as margens e seguiu a corrente. Cavalgaram ao longo de milhas, lenta e cuidadosamente, desmontando para levar os cavalos por terreno traiçoeiro, deixando que os cães bons de faro buscassem em cada arbusto. Onde uma árvore caída represava a corrente, os caçadores eram forçados a rodear uma lagoa profunda e verde, mas se os lobos gigantes tinham feito o mesmo, não deixaram nem pegadas nem rastros. Parecia que os animais tinham ganhado o gosto por nadar.