Читаем A Fúria dos Reis полностью

Parecia-lhe que Robb Stark lhes dera uma oportunidade de ouro. Que o rapaz ficasse em Correrrio sonhando com uma paz fácil. Tyrion responderia nos seus próprios termos, dando ao Rei do Norte apenas o bastante do que queria para mantê-lo esperançoso. Que Sor Cleos desgastasse seu ossudo traseiro de Frey cavalgando para lá e para cá com ofertas e contraofertas. Enquanto isso, seu primo Sor Stafford treinaria e armaria a nova tropa que tinha recrutado em Rochedo Casterly. Quando estivesse pronta, ele e Lorde Tywin poderiam esmagar os Tully e os Stark entre ambos.

Se ao menos os irmãos de Robert fossem tão amáveis. Por mais glacial que fosse sua progressão, Renly Baratheon continuava se arrastando para o norte e para o leste com sua enorme tropa do sul, e quase não se passava uma noite sem que Tyrion temesse ser acordado com a notícia de que Lorde Stannis subia a Torrente da Água Negra com a sua frota. Bem, ao que parece tenho uma considerável reserva de fogovivo, mas, mesmo assim…

O som de um tumulto qualquer na rua intrometeu-se nas suas preocupações. Tyrion espiou cautelosamente por entre as cortinas da liteira. Passavam pela Praça dos Sapateiros, onde uma multidão de bom tamanho se reunira por baixo dos toldos de couro para assistir às arengas de um profeta. Uma toga de lã não tingida, cintada por uma corda de cânhamo, identificava-o como um dos irmãos mendicantes.

Corrupção!

– o homem gritou estridentemente. – Ali está o aviso! Admirem o flagelo do Pai! – apontou para a esfiapada ferida vermelha no céu. De onde estava, o castelo distante na Colina de Aegon ficava diretamente por trás dele, com o cometa agourentamente pendurado por cima das suas torres. Uma escolha de palco inteligente, refletiu Tyrion. – Tornamo-nos inchados, intumecidos, impuros. Irmão copula com irmã na cama de reis, e o fruto do seu incesto faz piruetas no seu palácio ao som da flauta de um retorcido macaquinho demoníaco. Senhoras de alto nascimento fornicam com bobos e dão à luz monstros! Até o Alto Septão esqueceu os deuses! Banha-se em águas perfumadas e engorda com cotovias e lampreias, enquanto seu povo passa fome! O orgulho vem antes da oração, vermes governam nossos castelos, e o ouro é tudo… Mas basta! O verão putrefato chegou ao fim, e o Rei Devasso foi derrubado! Quando o javali o abriu, um grande fedor subiu ao céu, e mil serpentes deslizaram da sua barriga, silvando e mordendo! – ele voltou a balançar o dedo ossudo na direção do cometa e do castelo. – Ali vem o Mensageiro! Purifiquem-se a si mesmos, gritam os deuses, para que não tenham de ser purificados! Banhem-se no vinho da probidade, ou serão banhados em fogo! Fogo!

– Fogo! – repetiram outras vozes num eco, mas os gritos de zombaria quase os afogaram.

Tyrion retirou daquilo consolação. Deu ordem para prosseguir, e a liteira balançou como um navio em mar revolto, enquanto os Homens Queimados abriam caminho. Retorcido macaquinho demoníaco, certo

. Mas o desgraçado tinha realmente alguma razão no que dizia do Alto Septão. O que foi que o Rapaz Lua tinha dito dele no outro dia? Um homem devoto que adora tão fervorosamente os Sete que come uma refeição por cada um sempre que se senta à mesa. A memória da piada do bobo fez Tyrion sorrir.

Ficou contente por chegar à Fortaleza Vermelha sem mais incidentes. Enquanto subia os degraus que levavam aos seus aposentos, Tyrion sentia-se um pouco mais esperançoso do que de madrugada. Tempo. É tudo aquilo de que realmente preciso, tempo para juntar as peças. Assim que a corrente estiver pronta… Abriu a porta do seu aposento privado.

Cersei virou as costas para a janela, fazendo rodopiar as saias em torno das suas ancas esguias.

– Como se atreve a ignorar minhas convocatórias?

– Quem a deixou entrar na minha torre?

– Na sua torre? Este é o castelo real do meu filho.

– É o que me dizem – Tyrion não soou divertido. Crawn ficaria ainda menos; eram seus Irmãos da Lua que hoje estavam de guarda. – Acontece que me preparava para ir encontrá-la.

– Ah, é?

Ele fechou a porta atrás de si.

– Duvida de mim?

– Sempre, e com bons motivos.

– Sinto-me ferido – Tyrion bamboleou-se até o aparador para se servir de uma taça de vinho. Não conhecia melhor maneira de ficar com sede do que conversar com Cersei. – Se a ofendi, gostaria de saber como.

– Que vermezinho repugnante você é. Myrcella é minha única filha. Realmente imaginava que eu permitiria que a vendesse como um saco de aveia?

Myrcella, Tyrion pensou. Bom, esse ovo eclodiu. Vejamos de que cor é o pinto.

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