Osha deslocava-se por entre as mesas, servindo cerveja. Um dos homens de Leobald Tallhart enfiou uma mão pelas suas saias, e ela quebrou o jarro na sua cabeça, por entre o rugido das gargalhadas. Mas Mikken tinha enfiado a mão no corpete de uma mulher qualquer, e ela não parecia se importar. Bran observou Farlen obrigando sua cadela vermelha a implorar ossos, e sorriu ao ver a Velha Ama beliscar a crosta de uma torta quente com dedos enrugados. No estrado, Lorde Wyman atacou um prato fumegante de lampreias como se fossem uma tropa inimiga. O homem era tão gordo, que Sor Rodrik mandara construir uma cadeira especialmente larga para que nela se sentasse, mas ria sonora e frequentemente, e Bran concluiu que gostava dele. A pobre e abatida Senhora Hornwood estava sentada ao seu lado, com o rosto transformado numa máscara de pedra enquanto bicava a comida com indiferença. Do outro lado da mesa elevada, Hothen e Mors competiam para ver quem bebia mais, batendo com tanta força os berrantes um no outro que pareciam cavaleiros numa justa.
– Bran? – Sor Rodrik o chamou. – Não come?
O sonho acordado tinha sido tão vivo, que por um momento Bran não soube onde se encontrava.
– Comerei mais tarde – ele respondeu. – Minha barriga está quase estourando.
O bigode branco do velho cavaleiro estava cor-de-rosa devido ao vinho.
– Esteve bem, Bran. Aqui e nas audiências. Penso que um dia será um senhor particularmente bom.
Havia sido na noite do banquete de boas-vindas, quando o Rei Robert trouxera a corte a Winterfell. Então, ainda reinava o verão. Seus pais tinham dividido o estrado com Robert e sua rainha, com os irmãos dela a seu lado. Tio Benjen também estivera lá, todo vestido de preto. Bran e os irmãos e irmãs tinham se sentado com os filhos do rei, Joffrey, Tommen e a Princesa Myrcella, que passou a refeição inteira olhando Robb com olhos de adoração. Arya fazia caretas do outro lado da mesa quando ninguém estava olhando; Sansa escutava, em êxtase, as canções de cavalaria que o grande harpista do rei cantava, e Rickon não parava de perguntar por que motivo Jon não estava com eles.
– Porque é um bastardo – Bran teve de segredar-lhe por fim.
Mesmo nos bancos havia novos homens às mesas. Jory estava morto, bem como Gordo Tom e Porther, Alyn, Desmond, Hullen, que era mestre dos cavalos, e seu filho, Harwin… Todos os que tinham ido para o sul com seu pai, até Septã Mordane e Vayon Poole. Os outros tinham partido para a guerra com Robb e, até onde Bran sabia, podiam em breve estar mortos também. Gostava bastante de Hayhead, de Poxy Tym, de Skittrick e dos outros novos homens, mas sentia saudades dos seus velhos amigos.
Percorreu os bancos com os olhos, para cima e para baixo, para todos os rostos, felizes e tristes, e perguntou-se quem faltaria no ano seguinte e no outro. Sentiu vontade de chorar, mas não podia. Era um Stark em Winterfell, filho do seu pai e herdeiro do irmão e quase um homem-feito.
No fundo do salão, as portas abriram-se e um sopro de ar frio deixou a luz dos archotes mais brilhante por um momento. Alebelly introduziu dois novos convidados no banquete.
– A Senhora Meera da Casa Reed – berrou o corpulento guarda por sobre o clamor na sala. – Com o irmão, Jojen, da Atalaia da Água Cinzenta.
Homens ergueram os olhos das suas taças e tabuleiros para ver os recém-chegados. Bran ouviu o Pequeno Walder murmurar “Papa-rãs” para o Grande Walder. Sor Rodrik levantou-se.
– Sejam bem-vindos, amigos, e partilhem esta colheita conosco – criados correram para aumentar a mesa do estrado, indo buscar armações e cadeiras.