Читаем A Fúria dos Reis полностью

Sansa lembrava-se bem demais. Lembrava-se do modo como uivavam, da sensação do sangue escorrendo por seu rosto do local onde a pedra a atingira, e do fedor de alho no hálito do homem que tentara arrancá-la do cavalo. Ainda conseguia sentir a cruel pressão dos dedos em seu pulso quando tinha perdido o equilíbrio e começado a cair.

Naquela altura, pensou que ia morrer, mas os dedos tinham se contorcido, todos de uma vez só, e o homem guinchara alto como um cavalo. Quando a mão dele caiu, outra, mais forte, puxou-a de volta para a sela. O homem com o bafo de alho estava no chão, com sangue jorrando do coto em que terminava o braço, mas havia outros por toda volta, e alguns tinham tacos na mão. Cão de Caça saltou sobre eles, com a espada transformada numa mancha de aço que deixava para trás uma névoa vermelha à medida que ia sendo brandida. Quando tinham saído correndo diante de seus olhos, Cão de Caça rira, com a terrível cara queimada transformada por um momento.

Obrigou-se agora a olhar para aquele rosto, olhar realmente. Era uma cortesia, e uma senhora nunca podia se esquecer das cortesias. A pior parte não são as cicatrizes, nem sequer a maneira como a boca se retorce. São os olhos. Nunca tinha visto olhos tão cheios de ira.

– Eu… eu devia ter ido ter convosco depois – ela disse, hesitantemente. – Para lhe agradecer, por… por me ter salvado… foi tão bravo.

– Bravo? – a gargalhada dele era quase um rosnado. – Um cão não precisa de coragem para botar ratazanas para correr. Eram trinta contra um, e nem um homem entre eles se atreveu a me enfrentar.

Sansa detestava a maneira como ele falava, sempre tão desagradável e zangado.

– Assustar gente o alegra?

– Não, o que me alegra é matar gente – sua boca retorceu-se. – Enrugue a cara quanto quiser, mas poupe-me dessa falsa piedade. É cria de um grande senhor. Não me diga que Lorde Eddard Stark de Winterfell nunca matou um homem.

– Era o seu dever. Nunca gostou de fazê-lo.

– Foi isso que lhe contou? – Clegane voltou a rir. – Seu pai mentiu. Matar é a melhor coisa que existe – puxou a espada. – Aqui está a sua verdade. Seu precioso pai descobriu-a nos degraus de Baelor. Senhor de Winterfell, Mão do Rei, Protetor do Norte, o poderoso Eddard Stark, de uma linhagem velha de oito mil anos… Mas a lâmina de Ilyn Payne atravessou seu pescoço mesmo assim, não foi? Lembra-se da dança que ele fez quando a cabeça saiu de cima de seus ombros?

Sansa abraçou-se, subitamente cheia de frio.

– Por que é sempre tão odioso? Eu estava agradecendo

– Como se eu fosse um desses verdadeiros cavaleiros de que gosta tanto, sim. Para que pensa que um cavaleiro serve, menina? Acha que basta receber favores das senhoras e ficar bem numa armadura dourada? Os cavaleiros servem para matar – encostou o gume da espada no pescoço dela, logo abaixo da orelha. Sansa conseguia sentir o fio do aço. – Matei meu primeiro homem aos doze anos. Perdi a conta dos que matei desde então. Grandes senhores com nomes antigos, homens ricos e gordos vestidos de veludo, cavaleiros inflados com suas honrarias como balões de ar, sim, e também mulheres e crianças… São todos carne, e eu sou o carniceiro. Que fiquem com as suas terras, os seus deuses e o seu ouro. Que fiquem com os seus sores – Sandor Clegane cuspiu aos seus pés para mostrar o que pensava daquilo. – Desde que eu tenha isto – disse, afastando a espada da sua garganta –, não há homem na terra que tenha de temer.

Exceto seu irmão, Sansa pensou, mas tinha juízo suficiente para não dizer isso em voz alta. Ele é um cão, como diz ser. Um cão meio louco e de temperamento ruim que morde qualquer mão que tente lhe fazer um agrado, e que ao mesmo tempo despedaçará qualquer homem que tente fazer mal aos seus donos.

– Nem sequer os homens que estão do outro lado do rio?

Os olhos de Clegane viraram-se para os incêndios distantes.

– Todas estas chamas... – embainhou a espada. – Só covardes lutam com fogo.

– Lorde Stannis não é nenhum covarde.

– Também não é o homem que o irmão era. Robert nunca deixou que uma coisinha insignificante como um rio o parasse.

– Que irá fazer quando ele atravessar?

– Lutar. Matar. Talvez morrer.

– Não tem medo? Os deuses podem enviá-lo para algum inferno terrível por todo o mal que já fez.

– Que mal? – soltou uma gargalhada. – Que deuses?

– Os deuses que fizeram todos nós.

– Todos? – ele zombou. – Diga-me, passarinho, que tipo de deus faz um monstro como o Duende, ou uma idiota como a filha da Senhora Tanda? Se os deuses existirem, fizeram as ovelhas para que os lobos possam comer carneiro, e os fracos para os fortes brincarem com eles.

– Os verdadeiros cavaleiros protegem os fracos.

Ele fungou:

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