Então, uma súbita rajada de vento frio fez com que seu pelo se eriçasse, e o ar vibrou com o som de asas. Ao levantar os olhos para a montanha branca como gelo, uma sombra precipitou-se do céu. Um grito estridente cortou o ar. Vislumbrou pontas de asas azul-acinzentadas muito abertas, escondendo o sol…
–
Ebben apareceu, agarrou-o, e o sacudiu.
– Silêncio! Quer fazer com que os selvagens caiam sobre nós? O que acontece contigo, rapaz?
– Um sonho – disse Jon com uma voz débil. – Eu era o Fantasma, estava na borda de uma montanha olhando para baixo, para um rio congelado, e alguma coisa me atacou. Uma ave… uma águia, acho…
O Escudeiro Dalbridge sorriu:
– Nos meus sonhos são sempre mulheres bonitas. Gostaria de sonhar mais vezes.
Qhorin aproximou-se:
– Falou de um rio gelado?
– O Guadeleite nasce num grande lago no sopé de um glaciar – informou Cobra das Pedras.
– Havia uma árvore com o rosto do meu irmão. Os selvagens… eram
– Conte-me tudo aquilo de que se lembrar, do início ao fim – Qhorin Meia-Mão pediu.
Jon ficou confuso.
– Foi só um sonho.
– Um sonho de lobo – disse Meia-Mão. – Craster disse ao Senhor Comandante que os selvagens estavam se reunindo na nascente do Guadeleite. Pode ser por isso que teve esse sonho. Ou pode ser que tenha visto aquilo que nos espera, algumas horas mais à frente. Conte.
Jon sentiu-se meio tolo por falar daquelas coisas a Qhorin e aos outros patrulheiros, mas fez o que lhe era ordenado. No entanto, nenhum dos irmãos negros riu dele. Quando acabou, até o Escudeiro Dalbridge tinha perdido o sorriso.
– Troca-peles? – sugeriu Ebben em tom sombrio, olhando para Meia-Mão.
– Os ventos frios estão se levantando. Era o que Mormont temia. Benjen Stark também sentia isso. Os mortos caminham e as árvores voltaram a ter olhos. Por que deveríamos descrer de
– Isso quer dizer que os meus sonhos também são reais? – perguntou o Escudeiro Dalbridge. – Lorde Snow pode ficar com os seus mamutes, eu quero as minhas mulheres.
– Servi na Patrulha quando homem e rapaz, e fui tão longe em patrulha como qualquer outro – Ebben voltou a falar. – Vi os ossos de gigantes, e ouvi muitas histórias estranhas, mas nada mais. Quero vê-los com meus próprios olhos.
– Tome cuidado para que não o vejam, Ebben – Cobra das Pedras alertou-o.
Fantasma não retornou antes de voltarem a se pôr em marcha. Nessa altura, as sombras já cobriam o fundo do passo, e o sol afundava-se rapidamente na direção dos recortados picos gêmeos da enorme montanha que os patrulheiros chamavam de Ponta de Forquilha.
O último raio de sol desapareceu atrás dos picos da Ponta de Forquilha. O ocaso encheu o Passo dos Guinchos. Pareceu ficar mais frio quase de imediato. Já não subiam. Na verdade, o terreno começava a descer, ainda que por enquanto não muito. Estava repleto de fendas, pedregulhos e pilhas de pedra caída.
– Qhorin – chamou o Escudeiro Dalbridge em voz baixa. – Ali. Olha.
A águia estava empoleirada num espinhaço de rocha muito acima deles, delineada contra o céu que escurecia.
Mesmo assim, Ebben queria atirar uma flecha nela, mas o escudeiro o impediu.
– A ave está muito além do alcance do arco.
– Não gosto de vê-la nos observando.
O escudeiro encolheu os ombros.
– Nem eu, mas você não vai impedi-la. Só vai desperdiçar uma boa flecha.
Qhorin ficou parado, estudando a águia durante muito tempo.
– Avançamos – ele disse por fim. Os patrulheiros reataram a descida.