Читаем A Fúria dos Reis полностью

– Faz quase trinta anos que levo homens para a Muralha – a espuma brilhou nos lábios de Yoren, como bolhas de sangue. – Todo esse tempo, e só perdi três. Um velho morreu de uma febre, um garoto da cidade foi mordido por uma cobra enquanto cagava e um imbecil tentou me matar durante o sono, e ficou com um sorriso vermelho por ter me incomodado – Yoren passou o punhal pela garganta, para lhe mostrar. – Três, em trinta anos – cuspiu a folhamarga gasta. – Agora, um navio teria sido mais responsável. Não há como encontrar mais homens no caminho, mas, mesmo assim… Um homem esperto tinha ido de barco, mas eu… há trinta anos que ando por esta estrada do rei – ele embainhou o punhal. – Vai dormir, rapaz. Está me ouvindo?

Ela tentou. Mas enquanto jazia sob a manta, ouvia os lobos uivando… e um outro som, mais tênue, que não era mais do que um sussurro no vento... podiam ter sido gritos.




Davos

O ar da manhã estava escuro com a fumaça dos deuses que ardiam.

Estavam agora todos em chamas, a Donzela e a Mãe, o Guerreiro e o Ferreiro, a Velha, com os seus olhos de pérola, e o Pai, com a sua barba dourada; até o Estranho, esculpido para ter um aspecto mais animal do que humano. A velha madeira seca e incontáveis camadas de tinta e verniz ardiam com uma feroz luz esfomeada. O calor subia, iluminando vagamente o ar frio; por trás, as gárgulas e dragões de pedra do castelo pareciam borrados, como se Davos os estivesse vendo através de um véu de lágrimas. Ou como se os monstros estivessem tremendo, agitando-se…

– Uma coisa doentia – declarou Allard, embora tivesse pelo menos o bom-senso de manter a voz baixa. Dale concordou com um murmúrio.

– Silêncio – Davos ordenou. – Lembre-se de onde está.

Os filhos eram bons homens, mas jovens, e Allard, em especial, era impetuoso. Se eu tivesse continuado contrabandista, Allard teria acabado na Muralha. Stannis poupou-o desse fim, mais uma coisa que lhe devo…

Centenas de pessoas tinham vindo até os portões do castelo para testemunhar o incêndio dos Sete. O cheiro no ar era pestilento. Mesmo para os soldados, era difícil não sentir desconforto perante tamanha afronta aos deuses que a maioria havia adorado durante toda a vida.

A mulher vermelha caminhou três vezes em volta do fogo, rezando uma vez na língua de Asshai, outra em Alto Valiriano, e mais outra no Idioma Comum. Davos só compreendeu a última oração.

– R’hllor, venha até nós na escuridão – evocou a mulher. – Senhor da Luz, oferecemos-lhe estes falsos deuses, estes sete que são um, e esse um é o inimigo. Receba-os e lance a sua luz sobre nós, pois a noite é escura e cheia de terrores.

A Rainha Selyse repetiu as palavras num eco. A seu lado, Stannis observava impassível, com o queixo duro como pedra sob a sombra negra-azulada da sua barba rente. Tinha se vestido mais ricamente do que de costume, como se fosse ao septo.

O septo de Pedra do Dragão erguia-se no local onde Aegon, o Conquistador, se ajoelhara para rezar na noite antes de se lançar ao mar. Isso não salvou o templo dos homens da rainha. Tinham virado os altares, derrubado as estátuas e estraçalhado os vitrais com martelos de guerra. O Septão Barre só conseguiu amaldiçoá-los, mas Sor Hubard Rambton levou os três filhos ao septo para defender seus deuses. Os Rambton tinham matado quatro dos homens da rainha antes de os demais os subjugarem. Depois daquilo, Guncer Sunglass, o mais conciliador e mais devoto dos senhores, disse a Stannis que já não podia apoiar sua pretensão. Agora, dividia uma cela sufocante com o septão e os dois filhos sobreviventes de Sor Hubard. Os outros senhores não demoraram a aprender a lição.

Os deuses nunca tinham significado muito para Davos, o contrabandista, embora, tal como a maioria dos homens, fizesse oferendas ao Guerreiro, antes da batalha, ao Ferreiro, quando lançava um navio ao mar, e à Mãe, sempre que sua mulher engravidava. Sentiu-se mal enquanto os via arder, e não apenas por causa da fumaça.

Meistre Cressen teria impedido isso. O que as fofocas diziam era que o velho desafiara o Senhor da Luz e tinha sido abatido pela sua falta de fé. Davos conhecia a verdade. Tinha visto o meistre derramar alguma coisa na taça de vinho. Veneno. O que mais poderia ser? Bebeu uma taça de morte para libertar Stannis de Melisandre, mas de alguma forma o deus dela a protegeu. Teria matado com prazer a mulher vermelha por aquilo, mas que chance teria onde um meistre da Cidadela falhara? Era apenas um contrabandista que tinha subido na vida, Davos da Baixada das Pulgas, o Cavaleiro das Cebolas.

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