Os deuses que ardiam brilhavam com uma luz bonita, envoltos nas suas vestes de chamas em movimento, vermelhas, laranjas e amarelas. O Septão Barre uma vez lhe contara como eles tinham sido esculpidos dos mastros dos navios que tinham trazido os primeiros Targaryen de Valíria. Ao longo dos séculos, tinham sido pintados e repintados, tinham sido dourados, prateados e cravejados de joias.
– Sua beleza vai torná-los mais agradáveis a R’hllor – tinha afirmado Melisandre quando disse a Stannis para derrubá-los e arrastá-los para fora dos portões do castelo.
A Donzela estava atravessada sobre o Guerreiro, com os braços abertos, como que para abraçá-lo. A Mãe parecia quase tremer enquanto as chamas vinham lamber seu rosto. Uma espada tinha sido cravada no seu coração, e seu punho de couro estava vivo de chamas. O Pai estava embaixo, tinha sido o primeiro a cair. Davos viu a mão do Estranho retorcer-se e se enrolar enquanto os dedos enegreciam e se desprendiam, um por um, reduzidos a outros tantos pedaços de carvão em brasa. Ali perto, Lorde Celtigar teve um ataque de tosse e cobriu a cara enrugada com um lenço de linho bordado com caranguejos vermelhos. Os homens de Myr trocavam piadas enquanto desfrutavam do calor do fogo, mas o jovem Lorde Bar Emmon ficara num tom sujo de cinza, e Lorde Velaryon observava o rei, e não o incêndio.
Davos teria dado muito para saber o que ele estaria pensando, mas um homem como Velaryon nunca lhe faria confidências. O Senhor das Marés era do sangue da antiga Valíria, e sua Casa havia fornecido noivas aos príncipes Targaryen três vezes; Davos Seaworth fedia a peixe e cebolas. Com os outros fidalgos era a mesma coisa. Não podia confiar em nenhum deles, nem o incluiriam algum dia nas suas reuniões privadas. Também menosprezavam seus filhos.
Isso, se Stannis conquistar seu trono. Se perder…
Chamas pálidas lambiam o céu cinzento. Uma fumaça preta subia, retorcendo-se e enrolando-se. Quando o vento a empurrava contra eles, os homens piscavam, lacrimejavam e esfregavam os olhos. Allard virou o rosto, tossindo e praguejando.
Melisandre estava toda vestida de cetim escarlate e veludo cor de sangue, com os olhos tão vermelhos como o grande rubi que cintilava na sua garganta, como se estivesse em chamas.
– Nos livros antigos de Asshai está escrito que chegará um dia, após um longo Verão, em que as estrelas sangrarão e o bafo frio da escuridão cairá, pesado, sobre o mundo. Nessa hora de terror, um guerreiro retirará do fogo uma espada em chamas. E essa espada será a Luminífera, a Espada Vermelha dos Heróis, e aquele que a pegar será Azor Ahai renascido, e a escuridão fugirá perante ele – e levantou a voz, para que fosse ouvida pela tropa ali reunida. –