Bran nunca pedira para ser um príncipe. Era com a cavalaria que sempre sonhara; armaduras reluzentes e estandartes tremulando, lanças e espadas, um cavalo de guerra entre as pernas. Por que teria de desperdiçar seus dias ouvindo velhos falando de coisas que só compreendia parcialmente?
– É herdeiro do seu irmão e o Stark em Winterfell – Sor Rodrik dissera, recordando-lhe como Robb costumava acompanhar o senhor seu pai quando os vassalos vinham vê-lo.
Lorde Wyman Manderly chegara de Porto Branco dois dias antes, viajando de saveiro e liteira, pois era gordo demais para montar a cavalo. Consigo viera uma longa coluna de servidores: cavaleiros, escudeiros, senhores e senhoras de menor importância, arautos, músicos, até um malabarista, num esplendor de estandartes e capas que pareciam ter meia centena de cores. Bran lhes tinha dado as boas-vindas a Winterfell sentado no cadeirão de pedra do pai, com os lobos gigantes esculpidos nos braços, e mais tarde Sor Rodrik disse que tinha se portado bem. Se tivesse sido só aquilo, não teria se importado. Mas foi apenas o começo.
– O festim é um pretexto agradável – explicara Sor Rodrik –, mas um homem não atravessa cem léguas por uma fatia de pato e um gole de vinho. Só aqueles que têm assuntos importantes para sumeter à nossa consideração fazem tal viagem.
Bran olhou para cima, para o rude teto de pedra sobre sua cabeça. Sabia que Robb lhe diria para não agir como um garotinho. Quase conseguia ouvi-lo, e também o senhor seu pai.
Quando Hodor entrou pela porta, apressado, sorrindo e cantarolando sem melodia, encontrou o rapaz resignado ao seu destino. Juntos, deixaram-no lavado e escovado.
– Hoje quero o gibão de lã branca – Bran ordenou. – E o broche de prata. Sor Rodrik vai querer que eu tenha um ar senhorial.
Até onde era capaz, Bran preferia se vestir sozinho, mas havia algumas tarefas, como vestir os calções e amarrar as botas, que o atormentavam. Eram mais rápidas com a ajuda de Hodor. Uma vez ensinado a fazer alguma coisa, o gigante fazia-a com habilidade. Suas mãos eram sempre suaves, embora tivesse uma força espantosa.
– Você também poderia ter sido um cavaleiro, aposto – disse-lhe Bran. – Se os deuses não tivessem levado sua esperteza, teria sido um grande cavaleiro.
– Hodor? – o gigante piscou para ele seus olhos castanhos e francos, olhos inocentes de compreensão.
– Sim. Hodor – Bran apontou.
Na parede ao lado da porta estava pendurado um cesto, feito de vime e couro, muito firme, com buracos cortados para as pernas de Bran. Hodor enfiou os braços nas correias, cingiu bem o grande cinto ao peito, e depois ajoelhou-se ao lado da cama. Bran usou as barras presas na parede para se segurar, enquanto balançava o peso morto das suas pernas para dentro do cesto e através dos buracos.
– Hodor – repetiu o gigante, erguendo-se.
O cavalariço tinha quase dois metros e dez; às suas costas, a cabeça de Bran quase raspava no teto. Abaixou-se bem quando passaram pela porta. Certa vez, Hodor sentira o cheiro de pão assando e
Bran colocou as mãos nos ombros de Hodor enquanto desciam a escada em caracol. Lá fora, no pátio, já soavam os sons das espadas, dos escudos e dos cavalos. Faziam uma doce música.
Os fidalgos de Porto Branco sairiam mais tarde, com seus cavaleiros e homens de armas. Até lá, o pátio pertencia aos seus escudeiros, cujas idades iam dos dez aos quarenta anos. Bran desejou tanto ser um deles, que seu estômago doeu.
Tinham sido colocados no pátio dois manequins, e cada um deles era composto por um robusto poste, que sustentava uma trave mestra giratória com um escudo numa ponta e um alvo almofadado na outra. Os escudos tinham sido pintados de vermelho e dourado, embora os leões Lannister fossem granulosos e deformados e já estivessem bem marcados pelos primeiros rapazes que arremeteram contra eles.