A visão de Bran no cesto atraiu olhares daqueles que não o tinham visto antes, mas ele tinha aprendido a ignorar olhares. Pelo menos tinha uma boa vista; às costas de Hodor, ficava acima de todo mundo. Viu que os Walder estavam montando. Tinham trazido boas armaduras das Gêmeas, placas brilhantes e prateadas com relevos em esmalte azul. A cimeira do elmo do Grande Walder tinha formato de um castelo, enquanto o Pequeno Walder preferia flâmulas de seda azul e cinza. Seus escudos e capas também os distinguiam um do outro. O Pequeno Walder esquartelava as torres gêmeas de Frey com o javali malhado da Casa da avó e o lavrador da Casa da mãe: Crakehall e Darry, respectivamente. Os quartéis do Grande Walder eram a árvore com corvos da Casa Blackwood e as sinuosas serpentes dos Paege.
Seus corcéis cinza-rajados eram rápidos, fortes e otimamente treinados. Lado a lado, carregaram contra os manequins. Ambos atingiram bem os escudos e já tinham passado à vontade quando os alvos almofadados rodopiaram por trás deles. O Grande Walder deu o golpe mais forte, mas Bran achou que o Pequeno Walder montou melhor. Teria dado ambas as suas pernas inúteis pela oportunidade de defrontar qualquer um deles.
O Pequeno Walder jogou fora a lança estilhaçada, viu Bran e freou o cavalo.
– Ora, eis aí um cavalo feio – disse, referindo-se a Hodor.
– Hodor não é nenhum cavalo – Bran respondeu.
– Hodor – Hodor ecoou.
O Grande Walder juntou-se ao primo a trote.
– Bem, ele não é tão
– Hodor – sorrindo jovialmente, Hodor olhou um Frey após outro, sem reparar na zombaria. – Hodor Hodor?
A montaria do Pequeno Walder relinchou.
– Está vendo, eles estão falando um com o outro. Talvez
– Cala a boca, Frey – Bran sentia que estava ficando vermelho.
O Pequeno Walder esporeou o cavalo e aproximou-se, empurrando Hodor para trás.
– E o que você vai fazer se eu não me calar?
– Soltar o lobo em cima de você, primo – avisou Grande Walder.
– Deixa. Sempre quis um manto de pele de lobo.
– Verão arrancaria essa sua cabeça gorda – Bran retrucou.
O Pequeno Walder bateu na placa de peito com um punho revestido de cota de malha.
– Seu lobo tem dentes de aço para morder através de placa de aço e cota de malha?
–
– Se eu quiser.
De cima do seu corcel, o Pequeno Walder lançou a Luwin um olhar mal-humorado, como se dissesse:
– Bem, mas não é assim que os protegidos da Senhora Catelyn devem se comportar em Winterfell. O que causou isso? – o meistre olhou para os garotos, um a um. – Um de vocês vai me contar, juro, senão…
– Estávamos brincando com Hodor – confessou Grande Walder. – Lamento se ofendemos o Príncipe Bran. Só queríamos ser divertidos – ele tinha, pelo menos, a elegância de parecer envergonhado.
O Pequeno Walder parecia apenas impertinente:
– Eu também – disse. – Só estava sendo divertido.
Bran via que o ponto calvo no topo da cabeça do meistre tinha se tornado vermelho; se havia alguma diferença, Luwin estava mais zangado do que antes.
– Um bom senhor conforta e protege os fracos e indefesos – ele disse aos Frey. – Não vou admitir que façam de Hodor o alvo de brincadeiras cruéis, estão me ouvindo? Ele é um rapaz de bom coração, cumpridor e obediente, o que é mais do que posso dizer de qualquer um de vocês – o meistre brandiu um dedo para o Pequeno Walder. – E você vai ficar
– Hodor, siga o meistre – Bran ordenou.
– Hodor – o gigante ecoou. Seus longos passos alcançaram o bater furioso dos pés do meistre nos degraus da Grande Fortaleza. Meistre Luwin manteve a porta aberta, Bran abraçou o pescoço de Hodor e abaixou-se enquanto a atravessavam.
– Os Walder… – começou.
– Não quero ouvir mais nada sobre isso, acabou – Meistre Luwin parecia desgastado e esgotado. – Teve razão em defender Hodor, mas nunca deveria ter ido lá. Sor Rodrik e Lorde Wyman já quebraram o jejum enquanto o aguardavam. Tenho de vir em pessoa buscá-lo, como se fosse uma criança pequena?
– Não – Bran respondeu, envergonhado. – Lamento. Eu só queria…