– Sabe para onde vamos – disse-lhe Tyrion, aceitando ajuda para entrar na liteira.
Ele tinha feito tudo o que podia para alimentar a cidade faminta. Pusera várias centenas de carpinteiros para construir barcos de pesca em vez de catapultas, abrira a floresta do rei a qualquer caçador que se atrevesse a atravessar o rio e até enviara homens de manto dourado em busca de abastecimentos para oeste e para sul. Mas ainda via olhos acusadores onde quer que fosse. As cortinas da liteira afastavam-no deles e, além disso, davam-lhe tempo livre para pensar.
Enquanto abriam o sinuoso caminho pela retorcida Rua da Sombra Negra até o sopé da Grande Colina de Aegon, Tyrion refletiu sobre os acontecimentos da manhã. A ira de sua irmã a levara a não prestar atenção no verdadeiro significado da carta de Stannis Baratheon. Sem provas, suas acusações não eram nada; o que interessava era que tinha se denominado rei.
Ociosamente, puxou a cortina um pouco para trás, a fim de espreitar as ruas. Orelhas Negras cavalgavam de ambos os lados, com os macabros colares em volta dos pescoços, enquanto Bronn seguia na frente para abrir caminho. Observou os transeuntes que o olhavam e fez um pequeno jogo consigo mesmo, tentando distinguir os informantes dos demais.
Seu destino ficava atrás da colina de Rhaenys, e as ruas estavam cheias de gente. Passou-se quase uma hora até que a liteira parasse de balançar. Tyrion dormitava, mas acordou abruptamente quando o movimento cessou, esfregou a areia dos olhos e aceitou a ajuda de Bronn para sair.
A casa tinha dois andares, o de baixo em pedra e o de cima em madeira. Um torreão redondo erguia-se de um canto da estrutura. Muitas das janelas tinham vitrais. Por cima da porta balançava uma lâmpada ornamentada, um globo de metal dourado e vidro escarlate.
– Um bordel – Bronn identificou. – Que pretende fazer aqui?
– O que é que normalmente se faz num bordel?
O mercenário soltou uma gargalhada.
– Shae não é suficiente?
– Ela era bastante bonita para uma acompanhante de acampamento militar, mas já não estou num acampamento. Homens pequenos têm grandes apetites, e ouvir dizer que as garotas daqui são dignas de um rei.
– O garoto já tem idade suficiente?
– Joffrey não. Robert. Esta casa era uma das suas favoritas –
Bronn anuiu com um aceno.
– Como queira – os Orelhas Negras eram só sorrisos.
Lá dentro, uma mulher alta, vestida de sedas esvoaçantes, o esperava. Tinha pele de ébano e olhos de sândalo.
– Sou Chataya – ela se apresentou, com uma profunda reverência. – E o senhor é…
– Não vamos cair no hábito dos nomes. Eles são perigosos – o ar tinha cheiro de alguma especiaria exótica, e o chão sob seus pés mostrava um mosaico com duas mulheres entrelaçadas no amor. – Tem um estabelecimento agradável.
– Trabalhei longamente para deixá-lo assim. Fico feliz que a Mão esteja satisfeita – a voz dela era um fluxo de âmbar, líquida, com o sotaque das longínquas Ilhas do Verão.
– Os títulos podem ser tão perigosos como os nomes – Tyrion a preveniu. – Mostre-me algumas das suas garotas.
– Será um grande prazer. Descobrirá que todas elas são tão doces como belas e conhecedoras de todas as artes do amor.
Afastou-se com movimentos graciosos, obrigando Tyrion a bambolear-se o melhor que podia em cima de pernas com metade do comprimento das dela. Por detrás de um ornamentado biombo de Myr, esculpido com flores, fantasias e donzelas sonhadoras, espreitaram, sem ser vistos, uma sala comum, onde um velho tocava uma melodia alegre numa flauta. Numa alcova coberta de almofadas, um tyroshi bêbado com sua barba roxa embalava uma roliça prostituta sobre o joelho. Tinha desatado seu corpete e inclinava a taça para derramar um fino fio de vinho sobre os seios dela a fim de lambê-los. Outras duas moças jogavam damas em frente a uma janela de vitral. A sardenta usava uma cadeia de flores azuis no cabelo cor de mel. A outra tinha uma pele tão suave e negra como azeviche polido, grandes olhos escuros e pequenos seios pontudos. Vestiam seda leve presa à cintura com cintos de contas. A luz do sol que jorrava através do vidro colorido delineava seus belos corpos jovens através do tecido fino, e Tyrion sentiu uma agitação na virilha.
– Sugeriria, respeitosamente, a garota da pele escura – Chataya falou.
– É nova.