– Eu sei o que queria – a voz de Meistre Luwin soou mais gentil. – Gostaria que isso fosse possível, Bran. Quer me fazer alguma pergunta antes de darmos início a esta audiência?
– Iremos falar de guerra?
–
– Quase nove!
– Oito – repetiu o meistre com firmeza. – Não diga nada além de cortesias, a menos que Sor Rodrik ou Lorde Wyman lhe façam uma pergunta.
Bran fez um aceno.
– Lembrarei disso.
– Não direi nada a Sor Rodrik sobre o que houve entre você e os rapazes Frey.
– Obrigado.
Puseram Bran na cadeira de carvalho do pai, com as almofadas de veludo cinza, por trás de uma longa mesa de armar. Sor Rodrik sentou-se ao seu lado direito e Meistre Luwin, ao esquerdo, armado com penas, frascos de tinta e um molho de pergaminhos em branco para escrever tudo o que acontecesse. Bran passou uma mão pela madeira áspera da mesa e pediu desculpas a Lorde Wyman pelo atraso.
– Ora, nenhum príncipe jamais se atrasa – o Senhor de Porto Branco respondeu amavelmente. – Os que chegam antes dele chegaram cedo, só isso – Wyman Manderly tinha uma grandiosa gargalhada ressonante. Pouco admirava que não conseguisse se sentar numa sela; parecia pesar mais do que a maioria dos cavalos. Tão eloquente como era vasto, começou pedindo a Winterfell que confirmasse os novos meirinhos que tinha nomeado para Porto Branco. Os antigos tinham andado segurando prata para Porto Real em vez de pagá-la ao novo Rei no Norte. – Rei Robb também precisa da sua própria moeda – declarou –, e Porto Branco é o lugar ideal para cunhá-la – ofereceu-se para se encarregar do assunto, se o rei desejasse, e depois passou a falar de como havia reforçado as defesas do porto, detalhando o custo de cada melhoramento.
Além de uma casa de cunhagem, Lorde Manderly também propôs construir uma frota de guerra para Robb.
– Há centenas de anos que não temos força no mar, desde que Brandon, o Incendiário, tocou fogo nos navios do pai. Concedam-me o ouro necessário, e ainda este ano porei para flutuar galés em número suficiente para tomar tanto Pedra do Dragão como Porto Real.
O interesse de Bran foi despertado pela menção feita a navios de guerra. Ninguém lhe perguntou, mas achou a ideia de Lorde Wyman magnífica. Na imaginação já conseguia vê-los e se perguntava se um aleijado havia alguma vez comandado um navio de guerra. Mas Sor Rodrik prometeu apenas enviar a proposta para consideração de Robb, enquanto Meistre Luwin arranhava o pergaminho.
O meio-dia chegou e passou. Meistre Luwin mandou Poxy Tym para as cozinhas e almoçaram no aposento privado queijo, capões e pão preto de aveia. Enquanto estraçalhava uma ave com dedos gordos, Lorde Wyman inquiriu polidamente a respeito da Senhora Hornwood, que era sua prima.
– Ela nasceu como uma Manderly, sabe? Talvez, quando seu luto terminar, queira voltar a ser uma Manderly, hein? – arrancou uma mordida da asa e deu um largo sorriso. – Ora, acontece que eu sou viúvo há oito anos. Já é mais que hora de tomar outra esposa, não concordam, senhores? Um homem se sente só – pondo os ossos de lado, estendeu a mão até a perna. – Ou se a senhora preferir um rapaz mais novo, bem, meu filho Wendel também não está casado. Ele foi para o sul a fim de guardar a Senhora Catelyn, mas sem dúvida desejará arranjar uma noiva na volta. Um rapaz valente e alegre, o homem certo para ensiná-la a rir de novo, hein? – limpou um pouco de gordura do queixo com a manga da túnica.
Bran ouvia o estrondo distante de armas que entrava pelas janelas. Não tinha o menor interesse em casamentos.
O senhorio esperou, até que a mesa fosse limpa, antes de puxar o assunto de uma carta que tinha recebido de Lorde Tywin Lannister, que mantinha prisioneiro seu filho mais velho, Sor Wylis, capturado no Ramo Verde.
– Oferece-me sem resgate, sob a condição de eu retirar de Sua Graça meus recrutas e jurar parar de lutar.
– Irá recusar, é claro – Sor Rodrik exclamou.
– A esse respeito, nada temam – garantiu-lhes o lorde. – Rei Robb não tem servidor mais leal do que Wyman Manderly. No entanto, reluto em deixar meu filho em Harrenhal mais tempo do que o devido. Aquele lugar é mau. Dizem que é amaldiçoado. Não que eu seja o tipo de homem que engula essas histórias, mas, mesmo assim, é o que é. Vejam o que aconteceu àquele Janos Slynt. Feito Senhor de Harrenhal pela rainha e deposto pelo irmão dela. Enviado para a Muralha, segundo dizem. Peço para que alguma troca equitativa de prisioneiros possa ser acordada em breve. Sei que Wylis não gostaria de ficar esperando até a guerra acabar. Aquele meu filho é galante e feroz como um mastim.