– Só se encontram meistres em castelos e, mesmo se encontrássemos um, não sujaria as mãos em alguém como Lommy – Gendry esquivou-se de um galho baixo.
– Isso não é verdade – Arya estava certa de que o Meistre Luwin teria ajudado qualquer pessoa que o procurasse.
– Ele vai morrer e, quanto mais depressa isso acontecer, melhor para o resto de nós. Devíamos abandoná-lo e pronto, como ele mesmo diz. Se fosse eu ou você quem estivesse ferido, bem sabe que ele nos abandonaria – desceram uma fenda profunda e subiram do outro lado, usando raízes como corrimãos. – Estou farto de carregá-lo e também de toda aquela conversa sobre rendição. Se ele pudesse ficar em pé, enfiava seus dentes para dentro. Lommy não serve para ninguém. E aquela menina chorona também não.
– Deixe a Doninha em paz, ela está só assustada e com fome, é isso.
Arya olhou para trás, pela primeira vez a garota não os estava seguindo. Torta Quente devia tê-la agarrado, como Gendry lhe tinha dito para fazer.
– Não serve para nada – Gendry repetiu teimosamente. – Ela, Torta Quente e Lommy estão nos atrasando e ainda vão fazer com que nos matem. Você é o único membro do grupo que vale alguma coisa. Mesmo sendo uma menina.
Arya congelou.
–
– É sim. Acha que sou tão estúpido quanto eles?
– Não, é mais. A Patrulha da Noite não aceita meninas, todo mundo sabe disso.
– É verdade. Não sei por que Yoren a trouxe, mas deve ter tido algum motivo. Continua sendo uma menina.
– Não sou!
– Então tira o pinto pra fora e dá uma mijada. Vai lá.
– Não tenho vontade de mijar. Se tivesse, podia.
– Mentirosa. Não pode tirar o pinto porque não tem um. Nunca tinha reparado quando éramos trinta, mas você vai sempre para a floresta quando quer urinar. Não vejo Torta Quente fazer isso, e nem eu faço. Se não é uma menina, deve ser um eunuco.
– Eunuco é
– Sabe muito bem que não sou – Gendry sorriu. – Quer que tire o pau para fora para provar? Não tenho nada a esconder.
– Tem, sim – Arya exclamou, desesperada para sair daquela conversa sobre o pinto que não tinha. – Aqueles homens de manto dourado o procuravam na estalagem e não nos quer dizer por quê.
– Bem que gostaria de saber. Acho que Yoren sabia, mas nunca me disse. Mas por que você achou que eles estavam à sua procura?
Arya mordeu o lábio. Lembrava-se do que Yoren lhe dissera no dia em que cortou seu cabelo.
– Eu conto se você me contar – ela respondeu, com cautela.
– Contava se soubesse, Arry… É assim mesmo que se chama, ou tem algum nome de menina?
Arya fitou a raiz nodosa junto aos seus pés. Compreendeu que o fingimento tinha chegado ao fim. Gendry sabia, e ela nada tinha dentro das calças que pudesse convencê-lo do contrário. Podia puxar a Agulha e matá-lo ali mesmo ou, então, confiar nele. Não tinha certeza de que conseguiria matá-lo, mesmo se tentasse; ele tinha sua própria espada e era
– Lommy e Torta Quente não podem saber – ela pediu.
– Não saberão – ele jurou. – Por mim, não saberão.
– Arya – ela o encarou. – Meu nome é Arya. Da Casa Stark.
– Da Casa… – Gendry precisou de um momento antes de falar: – A Mão do Rei se chamava Stark. Aquele a quem mataram por traição.
– Nunca foi um traidor. Era meu pai.
Os olhos de Gendry esbugalharam-se.
– Então
Ela confirmou com a cabeça.
– Yoren estava me levando para casa, para Winterfell.
– Eu… Então, é nobre, uma… vai ser uma senhora…
Arya olhou sua roupa esfarrapada e pés descalços, rachados e cheios de calos. Viu a sujeira sob as unhas, as crostas nos cotovelos, os arranhões nas mãos.
– Minha mãe é uma senhora e minha irmã também, mas eu nunca fui.
– Foi, sim. Era filha de um senhor e viveu num castelo, não foi? E você… que os deuses sejam bons, eu nunca… – de repente Gendry pareceu incerto, quase com medo. – Toda aquela conversa sobre pintos, nunca devia ter dito aquilo. E andei mijando na sua frente e tudo. Eu… lhe peço perdão, senhora.
– Para com isso! – Arya ralhou com ele. Estaria caçoando dela?
– Eu conheço as cortesias, senhora – Gendry disse, teimoso como sempre. – Sempre que moças nobres vinham à loja com os pais, meu mestre dizia que eu devia dobrar o joelho, só falar quando falassem comigo e chamá-las de
– Se começar a me chamar de senhora, até
– Como a senhora ordenar.