Arya bateu no peito de Gendry com ambas as mãos. Ele tropeçou numa pedra e sentou-se no chão com um baque.
– Que tipo de filha de lorde é você? – ele perguntou, rindo.
–
Ele farejou o ar.
– Peixe podre?
– Você sabe que não é.
– É melhor termos cuidado. Vou dar a volta pelo oeste, para ver se encontro alguma estrada. Deve haver, porque você viu uma carroça. Você vai pela margem. Se precisar de ajuda, lata como um cachorro.
– Isso é estúpido. Se precisar de ajuda, gritarei
Arya afastou-se como uma flecha, os pés nus silenciosos no mato. Quando olhou para trás por sobre o ombro, ele a estava observando com aquele ar de dor no rosto que significava que estava pensando.
O cheiro ficou mais forte quando se aproximou da aldeia. Não era de peixe podre. Aquele fedor era mais fétido, mais repugnante. Franziu o nariz.
Onde as árvores começaram a rarear, usou a vegetação rasteira, deslizando de arbusto em arbusto, silenciosa como uma sombra. A cada poucos metros parava para escutar. Da terceira vez, ouviu cavalos e também uma voz de homem. E o cheiro piorava.
Uma densa moita de espinheiros crescia ao sul da aldeia. Quando a alcançou, as longas sombras do pôr do sol tinham começado a se desvanecer, e os vaga-lumes estavam surgindo. Conseguia ver telhados de sapé logo depois da cerca viva. Deslizou em volta até ver uma abertura e atravessou, rastejando sobre a barriga, mantendo-se bem escondida até ver de onde vinha o cheiro.
Junto às águas do Olho de Deus, que batiam levemente contra a margem, tinha sido erguido um longo cadafalso de madeira tosca e coisas que um dia tinham sido homens pendiam dela, com correntes nos pés, enquanto corvos bicavam sua carne e esvoaçavam de cadáver em cadáver. Para cada corvo havia cem moscas. Quando o vento soprava do lago, o mais próximo dos cadáveres retorcia-se ligeiramente nas suas correntes. Os corvos tinham comido a maior parte do seu rosto e outra coisa também tinha se alimentado dele, uma coisa muito maior. A garganta e o peito tinham sido rasgados; entranhas verdes e brilhantes e fitas de carne esfarrapada pendiam de onde a barriga tinha sido aberta. Um braço tinha sido arrancado pelo ombro; Arya viu os ossos alguns metros à sua frente, roídos e fendidos, completamente limpos de carne.
Forçou-se a olhar para o homem seguinte, e para o outro além dele, e para o outro depois
Então, ouviu-se um grito.
Os dois lanceiros se viraram ao ouvi-lo, e um terceiro homem surgiu, empurrando um prisioneiro à sua frente. Estava ficando escuro demais para distinguir rostos, mas o prisioneiro usava um brilhante elmo de aço, e quando Arya viu os cornos, soube que era Gendry.