Torta Quente olhou para Lommy de relance, depois para Arya, e depois, de novo, para Lommy.
– Vou – ele respondeu, relutante.
– Lommy, mantenha Doninha aqui.
Ele agarrou a garotinha pela mão e a puxou para perto de si.
– E se os lobos vierem?
– Renda-se – Arya sugeriu.
Encontrar o caminho de volta à aldeia pareceu demorar horas. Torta Quente ficou o tempo todo tropeçando na escuridão e se perdendo, e Arya tinha de esperar por ele ou voltar para buscá-lo. Por fim, pegou sua mão e o levou por entre as árvores.
– Limite-se a ficar calado e a me seguir.
Quando conseguiram distinguir o primeiro brilho tênue das fogueiras da aldeia contra o céu, ela disse:
– Há mortos pendurados do outro lado da cerca viva, mas não tem por que se assustar, lembre-se só de que o medo corta mais profundamente do que as espadas. Temos de ir em silêncio e lentamente – Torta Quente concordou com a cabeça.
Arya penetrou primeiro no espinheiro e esperou por ele do outro lado, bem agachada. Torta Quente surgiu, pálido e ofegante, com longos arranhões sangrentos na cara e nos braços. Começou a dizer qualquer coisa, mas Arya pôs um dedo nos seus lábios. Apoiando-se nas mãos e nos pés, rastejaram ao longo do cadafalso, sob os mortos oscilantes. Torta Quente não olhou para cima nem uma vez e não soltou um som sequer.
Até o corvo pousar nas suas costas e ele soltar um arquejo abafado:
–
Torta Quente ficou de pé num salto.
–
Arya também ficou em pé e puxou Agulha, mas, àquela altura, já havia homens por toda volta. Arya golpeou o mais próximo, mas ele a conteve com um braço revestido de aço, outro dos homens esbarrou nela e a atirou ao chão, e um terceiro arrancou a espada da sua mão. Quando tentou morder, seus dentes fecharam-se sobre cota de malha fria e suja.
– Oh-ho, esse é feroz – disse o homem, rindo. O golpe do seu punho revestido de ferro quase arrancou sua cabeça.
Conversaram por cima dela enquanto jazia com dores, mas Arya não parecia ser capaz de compreender as palavras. Seus ouvidos ressoavam. Quando tentou rastejar para fora dali, a terra moveu-se debaixo de si.
Por fim, alguém agarrou o peito do seu justilho e a deixou de joelhos. Torta Quente também estava ajoelhado, na frente do homem mais alto que Arya já tinha visto na vida, um monstro saído de uma das histórias da Velha Ama. Não chegou a ver de onde tinha vindo o gigante. Três cães negros corriam pela sua desbotada capa amarela e seu rosto parecia tão duro como se tivesse sido esculpido em pedra. De súbito, Arya lembrou-se de onde já vira aqueles cães. Na noite do torneio em Porto Real, todos os cavaleiros tinham pendurado seus escudos na porta dos seus pavilhões. “Aquele pertence ao irmão do Cão de Caça”, confidenciara Sansa quando passaram pelos cães negros em fundo amarelo. “Ele é ainda maior do que Hodor, verá. Chamam-no de a
Arya deixou a cabeça cair, só meio consciente do que se passava à sua volta. Torta Quente estava se rendendo um pouco mais. Montanha disse:
– Vai nos levar a esses outros – e afastou-se. Em seguida, Arya tropeçava pelos mortos no cadafalso, enquanto Torta Quente dizia aos captores que lhes faria empadões e tortas se não lhe fizessem mal. Foram quatro homens com eles. Um transportava um archote, outro, uma espada longa; dois tinham lanças.
Encontraram Lommy onde o tinham deixado, debaixo do carvalho.
– Rendo-me – ele gritou de imediato assim que os viu. Jogou longe sua lança e levantou as mãos, manchadas de verde por antigas tintas. – Rendo-me. Por favor.
O homem com o archote procurou em volta, debaixo das árvores.
– É o último? O filho do padeiro disse que havia uma menina.
– Ela fugiu quando os ouviu chegando – Lommy respondeu. – Fizeram muito barulho – e Arya pensou:
– Diga-nos onde encontrar aquele filho de puta do Dondarrion e haverá uma refeição quente para você.
– Quem? – Lommy perguntou, sem expressão.
– Eu disse. Estes aí não sabem mais do que aqueles cuzões da aldeia. Uma merda de uma perda de tempo.
Um dos lanceiros se aproximou indolentemente de Lommy.
– Tem alguma coisa com a sua perna, rapaz?
– Está ferida.
– Pode andar? – o homem parecia preocupado.
– Não. Terá de me carregar.
– Acha mesmo?