Читаем A Fúria dos Reis полностью

Os guardas falavam em voz alta, mas ela estava afastada demais para distinguir as palavras, especialmente com os corvos tagarelando e esvoaçando bem mais perto. Um dos lanceiros arrancou o elmo da cabeça de Gendry e lhe fez uma pergunta, mas não deve ter gostado da resposta, porque bateu na sua cara com o cabo da lança e o atirou ao chão. Aquele que o capturara lhe deu um pontapé, enquanto o segundo lanceiro experimentava o elmo de cabeça de touro. Por fim, puseram-no em pé e o levaram para o armazém. Quando abriram as pesadas portas de madeira, um garotinho saltou como uma flecha, mas um dos guardas agarrou seu braço e o atirou de volta lá para dentro. Arya ouviu soluços vindos de dentro do edifício e depois um grito tão alto e cheio de dor que a fez morder o lábio.

Os guardas atiraram Gendry lá para dentro, com o menino, e trancaram as portas. Nesse momento, um sopro de vento veio suspirando do lago, e as bandeiras agitaram-se e se ergueram. Aquela que estava no mastro maior exibia o leão dourado, tal como Arya temera. Na outra, três formas negras e lisas corriam por um fundo amarelo como manteiga. Cães, pensou. Arya já vira aqueles cães antes. Mas onde?

Não importava. A única coisa importante era que tinham capturado Gendry. Mesmo que ele fosse teimoso e estúpido, tinha de tirá-lo dali. Gostaria de saber se aqueles homens sabiam que a rainha o procurava.

Um dos guardas tirou seu elmo e colocou o de Gendry. Ver o homem usando-o a irritou, mas sabia que nada podia fazer para impedi-lo. Pensou ouvir mais gritos vindos de dentro do armazém sem janelas, abafados pelas paredes de pedra, mas era difícil ter certeza.

Permaneceu ali durante tempo suficiente para ver a mudança da guarda e muito mais coisas. Homens chegaram e partiram. Levaram os cavalos para beber no riacho. Um grupo de caçadores voltou da floresta, trazendo a carcaça de uma corça pendurada em uma vara. Viu quando eles a limparam, eviscerando-a e acendendo uma fogueira do outro lado do riacho, e o cheiro da carne assando misturou-se de forma estranha com o fedor da decomposição. A barriga vazia de Arya ficou embrulhada, e sentiu-se prestes a vomitar. A perspectiva de alimento trouxe outros homens de dentro das casas, quase todos usando peças de cota de malha ou couro fervido. Quando a corça ficou pronta, os melhores pedaços foram levados para uma das casas.

Arya achou que a escuridão pudesse permitir que rastejasse para mais perto e libertasse Gendry, mas os guardas acenderam archotes na fogueira. Um escudeiro trouxe carne e pão aos dois que guardavam o armazém, e mais tarde outros dois homens juntaram-se a eles, e os quatro passaram um odre de vinho de mão em mão. Quando se esvaziou, os outros foram embora, mas os dois guardas ficaram, apoiados nas lanças.

Os braços e as pernas de Arya estavam rígidos quando ela finalmente se contorceu para sair de debaixo do espinheiro e penetrar na escuridão da floresta. Estava uma noite escura, com uma fina lasca de lua aparecendo e desaparecendo à medida que as nuvens passavam por ela. Silenciosa como uma sombra, disse a si mesma enquanto se deslocava por entre as árvores. Naquela escuridão não se atrevia a correr, com receio de tropeçar em alguma raiz invisível ou de se perder. À esquerda, o Olho de Deus batia calmamente contra as suas margens. À direita, um vento suspirava através dos galhos, e folhas restolhavam e agitavam-se. Ao longe, ouviu os uivos de lobos.

Lommy e Torta Quente quase se borraram quando ela saiu das árvores atrás deles.

– Silêncio – Arya lhes disse, pondo um braço em volta da Doninha quando a garotinha correu para ela.

Torta Quente a encarou com os olhos muito abertos.

– Pensávamos que tinham nos abandonado – ele tinha a espada curta na mão, aquela que Yoren havia roubado do homem de manto dourado. – Tive medo de que fosse um lobo.

– Onde está o Touro? – Lommy perguntou.

– Pegaram-no – Arya sussurrou. – Temos de tirá-lo de lá. Torta Quente, vai ter de ajudar. Esgueiramo-nos até lá e matamos os guardas, e depois eu abro a porta.

Torta Quente e Lommy trocaram um olhar.

– Quantos?

– Não consegui contar – ela admitiu. – Pelo menos vinte, mas só dois estão na porta.

Torta Quente pareceu prestes a chorar.

– Não podemos lutar contra vinte.

– Só vai ter de lutar com um, eu trato do outro. Tiramos Gendry de lá e fugimos.

– Deveríamos nos render – Lommy protestou. – Vá até lá e renda-se.

Arya negou teimosamente com a cabeça.

– Então, deixe-o, Arry – Lommy suplicou. – Eles não sabem do resto de nós. Se nos escondermos, vão embora, sabe que vão. Não é culpa nossa que Gendry tenha sido capturado.

– Vocé é idiota, Lommy – Arya estava irritada. – Vai morrer se não o tirarmos de lá. Quem vai carregá-lo?

– Você e o Torta Quente.

– O tempo inteiro, sem mais ninguém para ajudar? Nunca conseguiremos. Gendry era o mais forte. Seja como for, não me interessa o que você diz, eu vou buscá-lo – Arya estava decidida. Então, olhou para Torta Quente: – Você vem?

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