Os dois continuaram a subir, a subir e a subir, sombras negras que rastejavam pela parede de rocha iluminada pelo luar. Qualquer pessoa que estivesse lá embaixo no passo poderia vê-los com facilidade, mas a montanha os escondia da vista dos selvagens junto à fogueira. No entanto, agora estavam perto deles. Jon conseguia sentir. Mesmo assim, não pensou nos inimigos que o esperavam, sem consciência de nada, a não ser do irmão que tinha em Winterfell.
A vertente era cortada a dois terços do caminho para cima por uma fissura curva de pedra gelada. Cobra das Pedras estendeu-lhe uma mão para ajudá-lo a subir. Tinha voltado a calçar as luvas, e Jon o imitou. O patrulheiro fez um sinal com a cabeça para a esquerda, e os dois rastejaram pela saliência ao longo de duzentos e cinquenta metros, ou mais, até conseguirem ver o apagado clarão cor de laranja para lá da borda do penhasco.
Os selvagens tinham acendido sua fogueira numa depressão pouco profunda que ficava por cima da parte mais estreita do passo, com uma queda livre em frente e rocha atrás para protegê-los da maior força do vento. Esse mesmo quebra-vento permitiu aos irmãos negros rastejar até poucos metros deles, arrastando-se, até ver logo abaixo os homens que tinham de matar.
Um deles dormia, bem enrolado e enterrado sob um grande monte de peles. Jon não conseguia ver nada do homem, a não ser o cabelo, vermelho-vivo à luz da fogueira. O segundo estava sentado junto das chamas, alimentando-as com raminhos e galhos maiores, queixando-se do vento num tom lamuriento. O terceiro observava o passo, embora pouco houvesse para ver, só uma vasta bacia de trevas, rodeada pelas bordas nevadas das montanhas. Era este, o vigia, quem tinha o berrante.
Tudo pareceu acontecer num instante. Mais tarde, Jon admirou a coragem do selvagem, que antes estendeu a mão para o berrante de guerra do que para a lâmina. Conseguiu levá-lo aos lábios, mas, antes que pudesse soprar, Cobra das Pedras jogou o berrante para longe com um golpe de espada. O homem escolhido por Jon ficou em pé com um salto, arremessando um tição ardente em seu rosto. Conseguiu sentir o calor das chamas ao recuar, vacilante. Pelo canto do olho viu aquele que dormia se agitando, e compreendeu que tinha de acabar depressa com seu escolhido. Quando o tição voltou a ser agitado, investiu contra ele, brandindo a espada bastarda com ambas as mãos. O aço valiriano abriu caminho através de couro, peles, lã e carne, mas quando o selvagem caiu, contorceu-se, arrancando a espada das mãos de Jon. No chão, aquele que dormia sentou-se debaixo das peles. Jon desembainhou a adaga, agarrando-o pelo cabelo e empurrando a ponta da sua faca até debaixo de seu queixo no momento em que ele… não,
A mão de Jon congelou no meio do movimento.
– Uma garota.
– Uma vigia – disse Cobra das Pedras. – Uma selvagem. Acabe com ela.
Jon via o medo e o fogo nos olhos dela. Corria sangue por sua garganta branca, vindo do lugar onde a ponta da adaga perfurara sua pele.
– Rende-se? – perguntou, dando à adaga uma meia-volta.
– Rendo-me – as palavras dela fumegaram no ar frio.
– Então é nossa prisioneira – Jon afastou a adaga da pele suave da sua garganta.
– Qhorin não disse nada sobre capturar prisioneiros – Cobra das Pedras retrucou.
– Não disse para não fazermos – Jon largou o cabelo da garota, e ela recuou, afastando-se deles.
– É uma guerreira – Cobra das Pedras indicou com um gesto o machado de cabo longo que estava ao lado das peles de dormir dela. – Estava estendendo a mão para aquilo quando a agarrou. Dê meia oportunidade, e ela o enterra entre seus olhos.
– Não lhe darei meia oportunidade – Jon chutou o machado para bem longe do alcance dela. – Tem um nome?