Читаем A Fúria dos Reis полностью

Não posso censurá-los, pensou Catelyn. Eles não sabem. E, se soubessem, por que haveriam de se importar? Nunca conheceram meus filhos. Nunca viram Bran escalando, com o coração na boca, orgulho e terror tão misturados que pareciam um só sentimento, nunca o ouviram rir, nunca sorriram ao ver Rickon tentar com toda a força ser como os irmãos mais velhos. Fitou o jantar que tinha diante de si: truta enrolada em bacon, salada de nabo, funcho vermelho e capim-doce, ervilhas, cebolas e pão quente. Brienne comia metodicamente, como se o jantar fosse outra tarefa a cumprir. Tornei-me uma mulher amarga, Catelyn pensou. Não retiro nenhuma satisfação da comida ou da bebida, e as canções e os risos transformaram-se em estranhos que são suspeitos para mim. Sou uma criatura de dor, pó e amargas saudades. Há um vazio dentro de mim onde um dia tive o coração.

O ruído que a outra mulher fazia ao comer tinha se tornado intolerável para ela.

– Brienne, não sou uma boa companhia. Vá se juntar aos festejos, se quiser. Beba um corno de cerveja e dance ao som da harpa de Rymund.

– Não fui feita para festejos, senhora – as grandes mãos da jovem partiram um naco de pão preto. Brienne encarou os pedaços como se tivesse se esquecido do que eram. – Se ordenar, eu…

Catelyn conseguia sentir seu desconforto.

– Só pensei que poderia apreciar uma companhia mais feliz do que a minha.

– Estou bastante satisfeita – a garota usou o pão para recolher um pouco da gordura do bacon em que a truta tinha sido frita.

– Chegou outra ave hoje de manhã – Catelyn não sabia por que tinha dito aquilo. – O meistre acordou-me imediatamente. Foi um ato cumpridor, mas não gentil. Não foi nada gentil – não quisera contar a Brienne. Ninguém sabia além dela e de Meistre Vyman, e tinha a intenção de manter as coisas assim até… até…

Até o quê? Mulher tola, será que guardar um segredo no coração o torna menos verdadeiro? Se nunca contar, nunca falar dele, vai se tornar apenas um sonho, menos do que um sonho, um pesadelo parcialmente recordado? Ah, se ao menos os deuses pudessem ser bons assim.

– São notícias de Porto Real? – Brienne perguntou.

– Bem gostaria que fossem. A ave veio do Castelo Cerwyn, de Sor Rodrik, meu castelão – asas escuras, palavras escuras. – Reuniu o poderio que pôde e vai marchar contra Winterfell, a fim de retomar o castelo – como tudo aquilo parecia pouco importante. – Mas disse… escreveu… contou-me, ele…

– Senhora, o que é? São notícias de seus filhos?

Aquela era uma pergunta tão simples; que bom seria se a resposta pudesse ser igualmente simples. Quando Catelyn tentou falar, as palavras ficaram presas em sua garganta.

– Não tenho nenhum filho, a não ser Robb – conseguiu proferir aquelas palavras terríveis sem um soluço, e pelo menos por isso sentiu-se contente.

Brienne olhou-a com horror.

– Senhora?

– Bran e Rickon tentaram escapar, mas foram capturados num moinho na Água de Bolotas. Theon Greyjoy pendurou a cabeça deles nas muralhas de Winterfell. Theon Greyjoy, que comeu à minha mesa desde que era um garoto de dez anos – já disse, que os deuses me perdoem, já disse tudo, e transformei-o em verdade.

O rosto de Brienne era um borrão de água. A moça estendeu a mão por sobre a mesa, mas seus dedos não chegaram aos de Catelyn, como se julgasse que o toque não seria bem-vindo.

– Eu… não há palavras, senhora. Minha boa senhora. Seus filhos, eles… eles estão agora com os deuses.

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