– Será que estão? – Catelyn questionou com voz cortante. – Que deus deixaria que isso acontecesse? Rickon era só um bebê. Como poderia merecer uma morte assim? E Bran… Quando abandonei o norte, ele ainda não tinha aberto os olhos desde a queda. Tive de partir antes de ele acordar. Agora não poderei voltar para ele, ou voltar a ouvi-lo rir – mostrou a Brienne as palmas das mãos, os dedos. – Estas cicatrizes… Mandaram um homem cortar a garganta de Bran enquanto dormia. Teria morrido naquele momento, e eu com ele, mas o lobo de Bran rasgou a garganta do homem – aquilo deu-lhe um momento de pausa. – Suponho que Theon também tenha matado os lobos. Deve ter matado, de outro modo… Eu tinha certeza de que os garotos estariam a salvo enquanto os lobos gigantes estivessem com eles. Como Robb, com seu Vento Cinzento. Mas minhas filhas agora não têm lobos.
A mudança abrupta de assunto deixou Brienne desconcertada.
– Suas filhas…
– Sansa, com três anos, já era uma senhora, sempre cortês e ansiosa por agradar. Nada amava mais do que histórias sobre valentes cavaleiros. Os homens diziam que se parecia comigo, mas vê-se que quando crescer se tornará uma mulher muito mais bela do que eu alguma vez fui. Eu frequentemente fazia sua aia se retirar para poder escovar seus cabelos. Tinha cabelos ruivos, mais claros do que os meus, e tão espessos e suaves… o vermelho neles capturava a luz das tochas e brilhava como cobre. E Arya, bem… Os visitantes de Ned confundiam-na com frequência com um ajudante de estrebaria se chegassem ao pátio sem ser anunciados. Arya era uma provação, há que dizê-lo. Meio garoto, meio cria de lobo. Bastava proibir-lhe alguma coisa, e isso tornava-se logo o maior desejo de seu coração. Possuía a face longa de Ned, e um cabelo castanho que andava sempre como se um pássaro tivesse nele feito um ninho. Dessisti de tentar fazer dela uma senhora. Colecionava machucados como as outras meninas colecionam bonecas, e era capaz de dizer qualquer coisa que lhe viesse à cabeça. Acho que também deve estar morta – quando proferiu aquelas palavras, foi como se uma mão gigantesca apertasse seu peito. – Quero-os todos mortos, Brienne. Primeiro Theon Greyjoy, depois Jaime Lannister, Cersei e o Duende, todos, todos. Mas as minhas meninas… as minhas meninas vão…
– A rainha… ela também tem uma garotinha – disse Brienne, embaraçada. – E também filhos, da mesma idade dos seus. Quando souber, talvez… talvez se apiede e…
– Envie-me as filhas incólumes? – Catelyn deu um sorriso triste. – Há em você uma doce inocência, filha. Seria bom… Mas não acontecerá. Robb vingará os irmãos. O gelo pode matar tão bem como o fogo.
– Vinho? – Brienne estava perdida. – A Robb? Ou… a Theon Greyjoy?
– Ao Regicida – a manobra tinha lhe servido bem com Cleos Frey.
– Estou às suas ordens, senhora.
– Ótimo – Catelyn levantou-se de forma abrupta. – Fique, termine a refeição em paz. Vou mandar buscá-la mais tarde. À meia-noite.
– Tão tarde, senhora?
– As masmorras não têm janelas. Lá embaixo uma hora é muito igual a outra, e para mim todas as horas são meia-noite – seus passos ressoaram de forma oca quando abandonou o salão. Enquanto subia até o aposento privado de Lorde Hoster, conseguia ouvi-los lá fora, gritando “Tully!” e “Uma taça! Uma taça para o bravo jovem senhor!”.
Lorde Hoster estava profundamente adormecido.
– Bebeu uma taça de vinho de sonhos há não muito tempo, senhora – disse Meistre Vyman. – Para as dores. Não saberá que está aqui.
– Não tem importância – Catelyn respondeu.
– Senhora, há alguma coisa que possa fazer pela senhora? Uma poção para dormir, talvez?
– Obrigada, Meistre, mas não. Não irei afastar o pesar com o sono. Bran e Rickon merecem mais de mim. Vá e junte-se à festa, eu farei companhia ao meu pai por algum tempo.
– Como quiser, senhora – Vyman fez uma reverência e a deixou.