– Olhe para mim, sor.
– A luz fere meus olhos. Um momento, por favor – Jaime Lannister não tivera permissão de usar uma navalha desde a noite em que fora capturado no Bosque dos Murmúrios, e uma barba hirsuta cobria seu rosto, antes tão semelhante ao da rainha. Cintilando, dourada, à luz da lâmpada, a barba fazia-o parecer um grande animal amarelo qualquer, magnífico, mesmo acorrentado. O cabelo por lavar caía sobre seus ombros em cordões e nós, as roupas apodreciam em seu corpo, o rosto estava pálido e desolado… E, mesmo assim, o poder e a beleza do homem ainda eram visíveis.
– Vejo que não teve gosto pelo vinho que lhe enviei.
– Uma generosidade súbita assim pareceu-me um pouco suspeita.
– Posso mandar que cortem sua cabeça a qualquer momento. Por que motivo precisaria envenená-lo?
– A morte pelo veneno pode parecer natural. É mais difícil defender que minha cabeça simplesmente caiu – lançou do chão um olhar de viés, com os olhos verdes como os de um gato acostumando-se lentamente à luz. – Convidaria a senhora a se sentar, mas seu irmão se esqueceu de me fornecer uma cadeira.
– Posso ficar bastante bem em pé.
– Pode? Devo dizer que está com um aspecto horrível. Embora talvez seja apenas a luz que há aqui – ele estava agrilhoado nos pulsos e nos tornozelos, com cada algema presa às outras por correntes, de forma que nem era capaz de ficar em pé nem de se deitar confortavelmente. As correntes dos tornozelos estavam presas à parede. – Minhas pulseiras são suficientemente pesadas para a senhora, ou veio acrescentar mais algumas? Eu as chocalho lindamente, se quiser.
– Foi você quem provocou isto – lembrou-lhe. – Oferecemos o conforto de uma cela de torre adequada ao seu nascimento e posição. Pagou-nos tentando escapar.
– Uma cela é uma cela. Há algumas sob Rochedo Casterly que fazem com que esta pareça um jardim ensolarado. Um dia talvez mostre-as à senhora.
– Um homem acorrentado pelos pés e pelas mãos devia ter na boca uma língua mais cortês, sor. Não vim aqui para ser ameaçada.
– Não? Então decerto que foi para obter prazer de mim? Dizem que as viúvas se cansam das suas camas vazias. Nós, na Guarda Real, juramos nunca casar, mas suponho que ainda poderia servi-la se for isso o que lhe faz falta. Sirva-nos um pouco daquele vinho e tire esse vestido, e veremos se estou em condições.
Catelyn encarou-o com repugnância.
– Se dissesse isso ao alcance dos ouvidos do meu filho, ele o mataria.
– Só se eu estivesse usando estas coisas – Jaime fez as correntes que o prendiam chocalhar. – Ambos sabemos que o rapaz tem medo de me enfrentar em combate singular.
– Meu filho pode ser novo, mas se o toma por um tolo, está tristemente enganado… E parece-me que não era tão rápido em lançar desafios quando ainda possuía um exército atrás de si.
– Os antigos Reis do Inverno também se escondiam atrás das saias das mães?
– Estou ficando farta disto, sor. Há coisas que tenho de saber.
– Por que haveria de lhe dizer qualquer coisa?
– Para salvar a sua vida.
– Acha que temo a morte? – aquilo pareceu diverti-lo.
– Deveria. Seus crimes devem lhe ter conquistado um lugar de sofrimento no mais profundo dos sete infernos, se os deuses forem justos.
– Que deuses são esses, Senhora Catelyn? As árvores a que seu esposo rezava? Como foi que o serviram quando minha irmã cortou sua cabeça? – Jaime soltou um risinho. – Se existirem deuses, por que o mundo está tão cheio de dor e injustiça?
– Por causa de homens como você.
– Não há homens como eu. Só existo eu.
– Se não quer falar comigo, assim seja. Beba o vinho ou urine nele, sor, não faz diferença para mim.
A mão dela já se encontrava sobre a maçaneta quando ele disse:
– Senhora Catelyn – Catelyn voltou-se, esperou. – As coisas enferrujam nesta umidade. Até a cortesia de um homem. Fique, e conseguirá as suas respostas… Por um preço.
– Cativos não estabelecem preço.
– Ah, irá achar o meu bastante modesto. Seu carcereiro não me diz nada a não ser vis mentiras, e sequer consegue mantê-las em pé. Um dia diz que Cersei foi esfolada, e no seguinte, que foi meu pai. Responda às minhas perguntas, e eu responderei às suas.
– Com a verdade?
– Ah, o que quer é a