O gibão era de veludo negro coberto de botões dourados em forma de cabeças de leão, e o colar, um aro de mãos de ouro maciço, com os dedos de cada uma apertando o pulso da seguinte. Pod trouxe um manto de seda carmesim debruada de dourado, cortado sob medida. Num homem normal, não seria mais do que uma meia capa.
A sala privativa de audiências da Mão não era tão grande como a do rei, nem chegava a um fragmento da imensidão da sala do trono, mas Tyrion gostava dos seus tapetes de Myr, dos reposteiros nas paredes e da impressão de intimidade que dava. Quando entrou, seu intendente gritou:
– Tyrion Lannister, Mão do Rei.
Também gostava disso. O bando de ferreiros, armeiros e ferrageiros que Bronn havia reunido ficou de joelhos. Tyrion içou-se para a cadeira elevada, que ficava abaixo da redonda janela dourada, e ordenou que se levantassem.
– Bons homens, sei que estão todos atarefados, portanto, serei sucinto. Pod, por favor – o rapaz entregou-lhe um saco de pano. Tyrion puxou o cordão que o fechava e o abriu, seu conteúdo derramou-se no tapete com um
Um dos ferreiros ajoelhou-se para inspecionar o objeto: três imensos elos de aço trançavam-se, unidos.
– Uma poderosa corrente.
– Poderosa, mas curta – respondeu o anão. – Como eu, de certo modo. Desejo uma bastante mais longa. Tem um nome?
– Chamam-me Pança de Ferro, senhor – o ferreiro era largo e atarracado, vestido simplesmente com lã e couro, mas seus braços eram tão grossos como o pescoço de um touro.
– Quero todas as forjas em Porto Real dedicadas a fazer estes elos e a uni-los. Todo o trabalho restante deverá ser posto de lado. Quero todos os homens que conheçam a arte de trabalhar o metal voltados para esta tarefa, sejam eles mestres, empregados ou aprendizes. Quando subir a Rua do Aço, quero ouvir martelos tinindo dia e noite. E quero um homem, um homem forte, para me certificar de que tudo isso seja feito. Esse homem é você, Pança de Ferro?
– Pode ser que seja, senhor. Mas, então, e a cota de malha e as espadas que a rainha queria?
Outro ferreiro interveio:
– Sua Graça ordenou-nos que fizéssemos cotas de malha e armaduras, espadas, punhais e machados, tudo em grande quantidade. Para armar o novo corpo de manto dourado, senhor.
– Esse trabalho pode esperar – Tyrion respondeu. – A corrente primeiro.
– Senhor, com a sua licença. Sua Graça disse que aqueles que não cumprissem as suas metas teriam as mãos esmagadas – insistiu o ansioso ferreiro. – Esmagadas nas suas próprias bigornas, ela disse.
– Ninguém terá as mãos esmagadas. Tem a minha palavra quanto a isso.
– O ferro tornou-se caro – declarou Pança de Ferro –, e essa corrente irá precisar de muito e também de coque, para os fogos.
– Lorde Baelish vai se assegurar de que tenham dinheiro à medida que forem necessitando dele – Tyrion prometeu. Esperava poder contar com Mindinho para isso. – Ordenarei à Patrulha da Cidade que os ajude a encontrar ferro. Derretam todas as ferraduras da cidade, se for necessário.
Um homem mais velho avançou, ricamente vestido com uma túnica de damasco com presilhas de prata e um manto forrado de pele de raposa. Ajoelhou-se para examinar os grandes elos de aço que Tyrion havia despejado no chão:
– Senhor – anunciou com gravidade –, isto é no máximo trabalho cru. Não possui arte. É tarefa adequada a ferreiros comuns, sem dúvida, a homens que dobram ferraduras e dão forma a tachos. Mas eu sou um mestre armeiro, se aprouver ao senhor. Isto não é trabalho para mim, nem para os mestres meus colegas. Fazemos espadas afiadas como canções, armaduras tais que um deus poderia usar. Mas
Tyrion inclinou a cabeça para o lado e ofereceu ao homem uma dose dos seus olhos desiguais.
– Qual é o seu nome, mestre armeiro?
– Salloreon, se agradar ao senhor. Se a Mão do Rei permitir, ficaria
– Mestre Salloreon, pretendo lutar o resto das minhas batalhas a partir desta cadeira. É de elos que preciso, não de chifres de demônio. Por isso, permita-me que coloque nesses termos: Você irá fazer elos, ou então irá usá-los. A escolha é sua.
Levantou-se e se retirou, sem dar sequer uma olhada para trás. Bronn esperava-o perto do portão com a liteira e uma escolta de Orelhas Negras a cavalo.