O homem ergueu displicentemente a lança e enfiou a ponta na garganta mole do rapaz. Lommy nem teve tempo de se render novamente. Sacudiu-se uma vez, e foi tudo. Quando o homem soltou a lança, jorrou sangue numa fonte escura.
– Carregá-lo, ele disse – resmungou, com um risinho.
Tyrion
Tinham-no prevenido para vestir roupas quentes. E Tyrion Lannister seguiu fielmente o que lhe disseram. Usava pesados calções forrados e um gibão de lã, e tinha posto por cima o manto de pele de gato-das-sombras que arranjara nas Montanhas da Lua. O manto era absurdamente longo, feito para um homem com o dobro da sua altura. Quando não estava montado, a única maneira de usá-lo era enrolá-lo à sua volta várias vezes, o que o deixava parecido com uma bola de pelo rajado.
Mesmo assim, sentia-se contente por ter escutado o que lhe tinham dito. O frio na longa adega úmida atacava os ossos. Timett decidiu recuar para a superfície depois de experimentar brevemente o frio que fazia lá embaixo. Estavam em algum lugar sob a colina de Rhaenys, nos fundos do palácio da Guilda dos Alquimistas. As paredes de pedra úmida estavam salpicadas de salitre, e a única luz que havia ali vinha da lamparina selada de ferro e vidro que Hallyne, o Piromante, transportava tão delicadamente.
– Um frasco liso é mais passível de escapar da mão de alguém.
Fogovivo escorreu lentamente para a boca do frasco quando Tyrion o inclinou para espiar lá dentro. Sabia que a cor devia ser um verde lodoso, mas a luz fraca impossibilitava-lhe confirmar.
– É espesso – ele observou.
– É por causa do frio, senhor – foi a resposta de Hallyne, um homem pálido, com mãos moles e úmidas, e maneiras obsequiosas. Estava vestido com uma toga listrada de preto e escarlate, ornamentada com zibelina, mas a pele já estava um tanto remendada e roída pelas traças. – À medida que for aquecendo, a substância fluirá com mais facilidade, como o azeite para as lâmpadas.
… Mas
– A água não o apaga, segundo me disseram.
– Assim é. Uma vez que se incendeie, a substância arderá violentamente até se extinguir. E vai, ainda, se infiltrar em roupa, madeira, couro, até mesmo aço, para que também se incendeiem.
Tyrion recordou o sacerdote vermelho Thoros de Myr e sua espada flamejante. Até mesmo um fino revestimento de fogovivo podia arder durante uma hora. Thoros precisava sempre de uma espada nova depois de um combate, mas Robert gostava do homem e estava sempre feliz em fornecê-las.
– Por que não se infiltra também no barro?
– Ah, mas infiltra – Hallyne respondeu. – Há uma adega por baixo desta onde armazenamos os frascos mais antigos. Os do tempo de Rei Aerys. Ele preferia mandar fazer os frascos em forma de frutas. Umas frutas muito perigosas mesmo, senhor Mão, e, hummm, hoje mais