– É culpa dele que o velho tenha morrido? – Stannis deu uma olhada para o fogo. – Nunca quis Cressen naquele banquete. Sim, ele tinha me irritado, tinha me dado maus conselhos, mas não o queria morto. Tive esperança de que lhe pudessem ser concedidos alguns anos de tranquilidade e conforto. Merecia pelo menos isso, mas… – rangeu os dentes – morreu. E Pylos serve-me com competência.
– Pylos é o de menos. A carta… Pergunto-me o que seus senhores pensaram dela.
Stannis fungou.
– Celtigar declarou-a admirável. Se lhe mostrasse o conteúdo da minha latrina, iria declará-lo igualmente admirável. Os outros sacudiram as cabeças para cima e para baixo como um bando de gansos, todos, menos Velaryon, que disse que o assunto seria decidido com aço, e não com palavras num pergaminho. Como se eu nunca tivesse suspeitado de tal coisa. Que os Outros levem os meus senhores. Quero ouvir a sua opinião.
– Suas palavras foram diretas e fortes.
– E verdadeiras.
– E verdadeiras. Mas não tem provas. Desse incesto. Não tem mais do que tinha há um ano.
– Há uma espécie de prova em Ponta Tempestade. O bastardo de Robert. O que ele gerou na minha noite de núpcias, exatamente na cama que tinham preparado para mim e para a minha noiva. Delena era uma Florent, e uma donzela quando ele a tomou, por isso Robert reconheceu o bebê. Chamam-no Edric Storm. Dizem que é a imagem e semelhança do meu irmão. Se os homens o vissem e depois voltassem a olhar para Joffrey e Tommen, não teriam como duvidar, penso eu.
– Mas como os homens poderão vê-lo se ele está em Ponta Tempestade?
Stannis tamborilou na Mesa Pintada com os dedos.
– É uma dificuldade. Uma de muitas – ergueu os olhos. – Tem mais a dizer a respeito da carta. Bem, prossiga com isso. Não o fiz cavaleiro para que aprendesse a proferir cortesias vazias. Para isso tenho meus senhores. Diga o que quer dizer, Davos.
Davos fez uma reverência:
– Há uma frase no fim. Como era?
– Sim – o maxilar do rei estava apertado.
– Seu povo não gostará dessas palavras.
– Assim como você? – Stannis perguntou rispidamente.
– Se, em vez delas, dissesse:
– Tornou-se agora devoto, contrabandista?
– Essa era a pergunta que eu queria fazer ao senhor, meu suserano.
– Ah, era? Parece que não gosta mais do meu novo deus do que do meu novo meistre.
– Não conheço este Senhor da Luz – Davos admitiu –, mas conhecia os deuses que queimamos hoje de manhã. O Ferreiro manteve meus navios a salvo, ao passo que a Mãe me deu sete filhos fortes.
– Sua esposa lhe deu sete filhos fortes. Reza para ela? O que queimamos hoje de manhã foi madeira.
– Pode ser que sim – Davos respondeu –, mas, quando eu era rapaz no Fundo das Pulgas e andava pedindo moedas de cobre, às vezes os septões alimentavam-me.
– Quem o alimenta agora sou
– O senhor me deu um lugar de honra à sua mesa. E, em troca, eu lhe dou a verdade. Seu povo não o amará se tirar dele os deuses que sempre adorou, e lhe der um que tem até um nome que soa estranho na língua que falam.
Stannis ficou em pé bruscamente.
–
– Se não acredita em deuses…
– … por que me perturbar com este novo? – Stannis o interrompeu. – Perguntei-me a mesma coisa. Pouco sei sobre deuses, e me preocupo com eles ainda menos, mas a sacerdotisa vermelha tem poder.
– Cressen tinha sabedoria.