– Confiei na sabedoria dele e nas suas artimanhas, e o que foi que me trouxeram, contrabandista? Os senhores da tempestade mandaram-me embora. Fui até eles como pedinte e riram de mim. Pois bem, não haverá mais pedidos, e também não haverá mais risos. O Trono de Ferro é legitimamente meu. Mas como vou obtê-lo? Há quatro reis no reino, e três deles têm mais homens e ouro do que eu. Tenho navios… e tenho
Stannis Baratheon virou as costas para a janela e para os fantasmas que se deslocavam pelo mar do sul.
– Os Sete nunca me trouxeram nem um pardal. É tempo de experimentar outro falcão, Davos. Um falcão
Theon
Não havia ancoradouro seguro em Pyke, mas Theon Greyjoy queria ver do mar o castelo do pai, para voltar a observá-lo como o vira pela última vez, dez anos antes, quando a galé de guerra de Robert Baratheon o levara da ilha para se tornar protegido de Eddard Stark. Naquele dia, tinha permanecido junto à amurada, escutando o bater dos remos e o ressoar do tambor do mestre enquanto via Pyke se tornar cada vez menor com a distância. Agora queria vê-lo crescer, erguer-se do mar à sua frente.
Obediente aos seus desejos, o
O litoral era todo feito de rochedos aguçados e falésias carrancudas, e o castelo parecia ser um só com as torres, muralhas e pontes esculpidas da mesma rocha cinza-escuro, umedecido pelas mesmas ondas salgadas, com as mesmas manchas de musgo verde-escuro que se espalhavam parecendo uma grinalda, salpicado pelos excrementos das mesmas aves marinhas. A ponta de terra onde os Greyjoy tinham erguido sua fortaleza projetara-se em outra época como uma espada pelas entranhas do oceano, mas as grandes ondas tinham-na martelado dia e noite até que a terra se quebrou e se estilhaçou, milhares de anos antes. Apenas restaram três ilhas nuas e estéreis e uma dúzia de grandes pilares de rocha que se erguiam da água como as colunas do templo de algum deus marinho, enquanto as ondas iradas espumavam e quebravam ao redor.
Lúgubre, escuro, ameaçador, Pyke erguia-se sobre essas ilhas e pilares, quase como se fizesse parte delas, com a muralha exterior fechando o promontório para defender a base da grande ponte de pedra que se lançava do topo da falésia até a maior das ilhotas, dominada pelo sólido núcleo da Grande Fortaleza. Mais adiante ficavam a Fortaleza da Cozinha e a Fortaleza Sangrenta, cada uma erguida na sua própria ilha rochosa. Torres e edifícios externos agarravam-se aos rochedos que os rodeavam, ligados uns aos outros por arcadas cobertas quando os pilares ficavam perto, ou por longas pontes suspensas de madeira e corda quando eram distantes.
A Torre do Mar erguia-se da ilha mais afastada, na ponta da espada quebrada; a mais antiga parte do castelo, alta e redonda, com o pilar de faces abruptas sobre o qual se erguia, meio corroído, pelo interminável bater das ondas. A base da torre tinha se tornado branca com séculos de acúmulo de sal, os andares superiores verdes com o musgo que rastejava sobre eles como um espesso cobertor, o topo irregular negro com a fuligem do fogo das vigias noturnas.
Por cima da Torre do Mar esvoaçava o estandarte do pai. O