Theon estava mais interessado em navios do que em deuses. Por entre os mastros de incontáveis barcos de pesca, vislumbrou uma galé mercantil de Tyrosh, que descarregava junto de um pesado navio pesqueiro ibbenês com o casco coberto de piche negro. Um grande número de dracares, pelo menos cinquenta ou sessenta, encontravam-se ao largo ou encalhados na costa pedregosa ao norte. Algumas das velas ostentavam símbolos das outras ilhas; a lua de sangue de Wynch, o corno de guerra negro enfaixado de Lorde Goodbrother, a foice prateada de Harlaw. Theon tentou vislumbrar o
Teria Lorde Balon se antecipado e convocado os vassalos Greyjoy quando recebeu de Correrrio a mensagem de Robb? Sua mão voltou a introduzir-se no manto para tocar a bolsa de oleado. Ninguém conhecia aquela sua carta além de Robb Stark; não eram tolos, e só um tolo confiaria seus segredos a uma ave. Em todo caso, Lorde Balon também não era nenhum tolo. Podia perfeitamente ter adivinhado o motivo por que o filho regressava finalmente à casa, e agido de acordo.
A ideia não lhe agradou. A guerra do pai tinha há muito terminado, e estava perdida. Aquela era a hora de Theon; seu plano, sua glória e, a seu tempo, sua coroa.
Agora que pensava nisso, podia ser apenas uma precaução. Uma medida defensiva, caso a guerra se derramasse pelo mar. Os velhos eram cautelosos por natureza. Seu pai era agora velho, assim como o tio Victarion, que comandava a Frota de Ferro. Seu tio Euron tocava outra música, certamente, mas o
Enquanto o
Mas Theon não viu rostos familiares no porto, nenhuma guarda de honra de cavaleiros para escoltá-lo de Fidalporto até Pyke, só plebeus que tratavam dos seus assuntos banais. Carregadores desembarcavam cascos de vinho do navio mercante de Tyrosh, pescadores anunciavam aos gritos a mercadoria do dia, crianças corriam e brincavam. Um sacerdote com a toga marinha do Deus Afogado levava um par de cavalos ao longo da costa pedregosa, e por cima da sua cabeça uma prostituta debruçava-se de uma janela na estalagem, chamando marinheiros ibbeneses de passagem.
Um punhado de mercadores de Fidalporto havia se reunido para receber o navio. Gritaram perguntas enquanto o
– Viemos de Vilavelha – gritou-lhes o capitão em resposta –, trazendo maçãs e laranjas, vinhos da Árvore, penas das Ilhas do Verão. Tenho pimenta, couro trançado, um rolo de renda de Myr, espelhos para as senhoras, um par de harpas de madeira de Vilavelha com um som doce como nunca ouviram – a prancha de embarque desceu com um rangido e um estrondo. – E trouxe-lhes de volta o seu herdeiro.
Os homens de Fidalporto olharam Theon com olhos vazios e bovinos, e ele percebeu que não sabiam quem era. Aquilo o deixou irritado. Enfiou um dragão de ouro na palma da mão do capitão e lhe disse:
– Mande seus homens trazerem as minhas coisas – e, sem esperar resposta, desceu a prancha a passos largos. – Estalajadeiro – ele esbravejou –, quero um cavalo.
– Como quiser, senhor – respondeu o homem, sem sequer fazer uma reverência. Theon tinha se esquecido de como os homens de ferro podiam ser descarados. – Tenho um que deve servir. Para onde vai, senhor?
– Pyke – o imbecil
– Desejará partir em breve, para chegar a Pyke antes de escurecer – disse o estalajadeiro. – Meu rapaz irá junto para lhe mostrar o caminho.
– Seu rapaz não será necessário – gritou uma voz profunda –, nem seu cavalo. Eu levo meu sobrinho à casa do pai.
Quem falava era o sacerdote que Theon tinha visto levando os cavalos ao longo da costa. Quando o homem se aproximou, os plebeus fizeram reverência, e Theon ouviu o estalajadeiro murmurar:
– Cabelo Molhado...