– E você, tio? – perguntou Theon. – Não era nenhum sacerdote quando fui levado de Pyke. Lembro-me de como cantava as velhas canções de saque em pé sobre a mesa com um corno de cerveja na mão.
– Era jovem e frívolo – Aeron Greyjoy respondeu. – Mas o mar lavou minhas loucuras e frivolidades. Aquele homem se afogou, sobrinho. Seus pulmões encheram-se de água do mar, e os peixes comeram as escamas que cobriam seus olhos. Quando me reergui, via com clareza.
– Tio, por que meu pai convocou as espadas e as velas?
– Sem dúvida ele lhe dirá, em Pyke.
– Gostaria de saber dos seus planos agora – disse Theon.
– De mim não saberá. Foi-nos ordenado que não falássemos disso com nenhum homem.
– Nem
A ira de Theon se fez notar. Comandara homens na guerra, caçara com um rei, conquistara a honra em lutas corpo a corpo de torneios, cavalgara com Brynden Peixe Negro e o Grande-Jon Umber, lutara no Bosque dos Murmúrios, dormira com mais garotas do que conseguia recordar, e mesmo assim o tio tratava-o como se ainda fosse uma criança de dez anos.
– Se meu pai faz planos para a guerra, devo conhecê-los. Não sou “
– Quanto a isso, veremos – o tio respondeu.
As palavras foram uma bofetada no seu rosto.
–V
– Sua irmã está viva – Aeron nem sequer ofereceu a Theon a cortesia de um relance.
– Uma mulher só pode herdar se não houver nenhum herdeiro varão em linha direta – ele insistiu em voz alta. – Não aceitarei que me privem dos meus direitos, aviso.
O tio soltou um grunhido.
–
Theon controlou a língua, embora não sem esforço.
Lorde Eddard tentara fazer o papel de pai algumas poucas vezes, mas, para Theon, sempre foi o homem que havia trazido sangue e fogo a Pyke e o tirado de casa. Quando garoto, tinha vivido sob o medo do rosto severo e da grande espada escura do Stark. E a senhora sua esposa era, se possível, ainda mais distante e suspeita.
Quanto aos filhos, os mais novos não tinham sido mais do que bebês chorões ao longo da maior parte da sua estada em Winterfell. Só Robb e o meio-irmão ilegítimo Jon Snow tinham idade suficiente para merecer a sua atenção. O bastardo era um rapaz carrancudo, rápido em detectar uma desfeita, invejoso do nascimento elevado de Theon e da amizade que Robb nutria por ele. Por Robb Theon tinha uma certa afeição, como a que se sente por um irmão mais novo… mas seria melhor não mencioná-la. Em Pyke, ao que parecia, as velhas guerras ainda estavam sendo travadas. Isso não devia surpreendê-lo. As Ilhas de Ferro viviam no passado; o presente era duro e amargo demais para ser suportável. Além disso, o pai e os tios eram velhos, e os velhos senhores eram assim; levavam suas contendas poeirentas para a sepultura, sem esquecer nada, e perdoando menos ainda.
Tinha sido assim com os Mallister, seus companheiros na viagem de Correrrio para Guardamar. Patrek Mallister era, não raro, um companheiro; dividiam o gosto por prostitutas, vinho e caça com falcões. Mas, quando o velho Lorde Jason viu seu herdeiro se tornando cada vez mais feliz com a companhia de Theon, puxou Patrek a um canto para lembrá-lo de que Guardamar havia sido construído para defender a costa dos saqueadores das Ilhas de Ferro, os Greyjoy de Pyke principalmente. Sua Torre Retumbante tinha esse nome por causa do imenso sino de bronze, que há muito tempo tocava para avisar o povo da vila e os agricultores no castelo quando os dracares eram avistados no horizonte a oeste.
– Não ligue, pois o sino só foi tocado uma única vez em trezentos anos – Patrek contou a Theon no dia seguinte, quando compartilhou os avisos de seu pai e um jarro de sidra.
– Quando meu irmão assaltou Guardamar – Theon respondeu. Lorde Jason matara Rodrik Greyjoy sob as muralhas do castelo e expulsara os homens de ferro de volta para a baía. – Se seu pai acha que tenho alguma inimizade em relação a ele só por causa disso, é só porque nunca conheceu Rodrik.