Não podia saber há quanto tempo a cidade estava deserta, mas as muralhas brancas, tão belas quando vistas de longe, estavam rachadas e arruinadas quando vistas de perto. Lá dentro havia um labirinto de ruelas retorcidas. Os edifícios apertavam-se uns contra os outros, com fachadas caiadas nuas, sem janelas. Tudo era branco, como se o povo que aí vivera não conhecesse cores. Passaram por pilhas de entulho lavados pelo sol onde casas tinham ruído e em outros pontos viram as desbotadas cicatrizes do fogo. Num lugar onde seis vielas se juntavam, Dany passou por um pedestal vazio de mármore. Ao que parecia, os dothrakis já tinham visitado aquele local. Talvez a estátua que ali faltava estivesse entre os outros deuses roubados em Vaes Dothrak. Podia ter passado por ela cem vezes, sem saber. Sobre seu ombro, Viserion silvou.
Acamparam em frente aos restos de um palácio devastado, numa praça varrida pelo vento, onde a erva-do-diabo crescia entre as pedras do pavimento. Dany enviou homens para explorar as ruínas. Alguns foram com relutância, mas foram… Um velho cheio de cicatrizes voltou pouco tempo depois, saltando e sorrindo, com as mãos repletas de figos. Eram umas coisinhas pequenas e mirradas, mas o povo de Dany atirou-se avidamente sobre eles, puxando-se e empurrando-se, enfiando a fruta na boca e mastigando em êxtase.
Outros exploradores regressaram com histórias sobre outras árvores frutíferas, escondidas atrás de portas fechadas em jardins secretos. Aggo mostrou-lhe um pátio repleto de videiras retorcidas e minúsculas uvas verdes, e Jhogo descobriu um poço onde a água era pura e gelada. Mas também encontraram ossos, os crânios dos mortos por enterrar, embranquecidos e quebrados.
– Fantasmas – murmurou Irri. – Terríveis fantasmas. Não podemos ficar aqui,
– Não temo fantasmas. Os dragões são mais poderosos do que fantasmas –
Na frescura da sua tenda, Dany esturricou carne de cavalo sobre um braseiro e refletiu sobre suas alternativas. Ali havia comida e água para sustentá-los, e grama suficiente para os cavalos recuperarem as forças. Como seria agradável acordar todos os dias no mesmo lugar, passear por jardins sombreados, comer figos e beber água fresca, tanta quanta quisesse.
Quando Irri e Jhiqui retornaram com vasilhas cheias de areia branca, Dany despiu-se e deixou que esfregassem sua sujeira.
– Seu cabelo está voltando,
Do outro lado da tenda, Rhaegal abriu suas asas verdes, bateu-as e flutuou num voo curto até voltar a cair no tapete. Quando aterrissou, a cauda chicoteou em fúria, e ele levantou a cabeça e gritou.
Irri interrompeu sua divagação para lhe dizer que Sor Jorah Mormont estava lá fora, à espera das suas ordens.
– Mande-o entrar – Dany ordenou, sentindo um formigamento na pele esfregada com areia. Envolveu-se na pele de leão. O
– Trouxe-lhe um pêssego – disse Sor Jorah, ajoelhando-se. Era tão pequeno que Dany quase podia escondê-lo na palma da mão, e também estava maduro demais, mas, quando deu a primeira dentada, o miolo era tão doce que quase chorou. Comeu-o lentamente, saboreando cada pedaço, enquanto Sor Jorah lhe falava da árvore de onde o arrancara, num jardim perto da muralha ocidental.
– Fruta, água e sombra – Dany disse, com o rosto melado de sumo de pêssego. – Os deuses foram bons por nos trazer para este lugar.
– Devemos descansar aqui até ficarmos mais fortes – sugeriu o cavaleiro. – As terras vermelhas não são gentis para com os fracos.
– Minhas aias dizem que aqui há fantasmas.