Teimosamente, Arya puxou a menina chorona com mais força, arrastando-a consigo. Torta Quente correu de volta para dentro do celeiro, abandonando-as… Mas Gendry voltou, com o fogo brilhando tão intensamente no seu elmo polido que os cornos pareciam cintilar em tons de laranja. Correu para elas e içou a menina chorona por sobre o ombro.
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Atravessar as portas do celeiro era como correr para o interior de uma fornalha. O ar rodopiava com fumaça, e a parede dos fundos era uma torrente de fogo do chão ao teto. Os cavalos e os burros escoiceavam, empinavam-se e berravam.
– Rapaz! – chamou Jaqen H’ghar. – Querido rapaz!
O alçapão aberto estava a apenas pouco mais de um metro de distância, mas o fogo espalhava-se rapidamente, consumindo a velha madeira e a palha seca mais depressa do que Arya teria acreditado. Lembrou-se do horrível rosto queimado do Cão de Caça.
– O túnel é estreito – gritou Gendry. – Como é que a faremos passar?
– Puxe-a – Arya gritou. – Empurre-a.
– Bons rapazes, amáveis rapazes – Jaqen H’gar falava e tossia ao mesmo tempo.
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Gendry os ignorou.
– Vá primeiro, depois vai ela e depois eu. Apresse-se, o caminho é longo.
– Quando cortou a lenha – Arya lembrou-se –, onde deixou o machado?
– Lá fora, junto ao abrigo – e olhou de relance para os homens acorrentados. – Eu antes salvaria os burros. Não há tempo.
– Leve-a! – Arya gritou. – Tire-a daqui! Vá!
O fogo bateu nas suas costas com quentes asas vermelhas quando saiu correndo do celeiro em chamas. Lá fora estava abençoadamente fresco, mas havia homens morrendo em toda parte. Viu Koss atirar a espada no chão em rendição e viu os homens matando-o ali mesmo. Havia fumaça por toda parte. Nem sinal de Yoren, mas o machado estava onde Gendry o deixara, perto da pilha de lenha do lado de fora do abrigo. Quando o libertou da tora, uma mão revestida de cota de malha agarrou seu braço. Rodopiando, Arya brandiu a cabeça do machado e enterrou-a entre as pernas do homem. Não chegou a ver seu rosto, viu apenas o sangue escuro vazando entre os aros da sua cota de malha. Voltar àquele celeiro foi a coisa mais difícil que já tinha feito. Jorrava fumaça pela porta aberta como uma serpente negra que se contorcia. Arya conseguia ouvir os gritos dos pobres animais lá dentro, burros, cavalos e homens. Mordeu o lábio e atravessou as portas como uma flecha, abaixando-se até onde a fumaça não era tão espessa.
Um burro estava encurralado no interior de um anel de fogo, gritando de terror e dor. Arya conseguia sentir o fedor de pelo queimado. O telhado também tinha se incendiado, e havia coisas caindo, fragmentos de madeira em chamas e montes de palha e feno. Arya pôs uma mão sobre a boca e o nariz. Não podia ver a carroça com a fumaça, mas ainda conseguia ouvir os gritos do Dentadas e rastejou na direção do som.
Então, uma roda surgiu na sua frente. A carroça
Arya atirou-se de cabeça pelo túnel adentro e deslizou pelo chão um metro e meio. Ficou com terra na boca, mas não se importou, o gosto era bom, era um sabor de lama, água, minhocas e vida. Debaixo da terra, o ar estava fresco e escuro. Por cima nada havia a não ser sangue, um rugido vermelho, fumaça sufocante e os gritos de cavalos moribundos. Rodou o cinto para que Agulha não ficasse no seu caminho e começou a rastejar. Tinha penetrado uns três metros no túnel quando ouviu o som, como o rugido de alguma fera monstruosa, e uma nuvem de fumaça quente e poeira negra formou uma onda atrás dela, com o cheiro do inferno. Arya segurou a respiração, beijou a lama do chão do túnel e chorou. Por quem, não sabia dizer.
Tyrion
A rainha não estava disposta a esperar por Varys.
– A traição já é vil o suficiente – Cersei declarou, furiosa –, mas isso é vilania da mais nua e descarada, e não preciso daquele eunuco afetado para me dizer o que deve ser feito com vilões.
Tyrion tirou as cartas da mão da irmã e comparou-as, lado a lado. Eram duas cópias, com exatamente as mesmas palavras, embora tivessem sido escritas por mãos diferentes.